sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A moela e eu

Há alguns dias, este pobre aprendiz de jornalista e cronista escreveu sobre as mazelas da beterraba e sobre as desventuras do simpático milho. Eis que volto – com muito apetite – a falar de alimentos neste espaço vil.

Como você viu no texto anterior, sou um chato com essas coisas de comida. Eu sei que pobre – eu sou um – come de tudo, mas, o tudo tem um limite. Esta semana, fui apresentado à corajosa moela. Sim, é isso o que você ouviu. Prazer, moela!

– O que tem pra comer, mãe?
– Moela.

Eu, desculpe, já não gostei do nome. Eu não como uma coisa chamada moela. Com um nome desses não pode ser boa. Me lembrou algo mole, revestido por alguma membrana suja misturada com sangue. Sei lá, não apreciei de cara.

Resisti ao preconceito e fui conhecer a moela pessoalmente. Não foi um encontro muito agradável; olhei, avaliei as condições, senti o cheiro; e foi aí que o desentendimento se tornou maior: Moela tem cheiro de fígado.

Não só o cheiro, mas a aparência, o aspecto infeliz, maltratado. Moela é uma prima pobre do fígado. E eu odeio fígado com todas as forças. A chance de eu comê-lo é a mesma de o Ronaldinho Gaúcho virar gandula da Ponte Preta.

Pode me chamar de baitola, mas não como nada que seja um órgão de animal. Nada de coração, fígado, rim, pulmão, cérebro etc. Não por ideologia naturalista, mas por puro nojo mesmo.

– De onde vem a moela, mãe?
– Da galinha.

Pronto. Agora é que eu não coloco aquilo na boca mesmo. Como assim da galinha? Em que parte daquele corpinho sai a barrenta moela? Logo imaginei que fosse perto de onde sai o ovo, mas, com a ajuda do dicionário, a idéia logo evaporou.

Moela, s. f.

parte muscular do tubo digestivo que surge nas aves e em vários invertebrados imediatamente após o papo, que é por vezes revestida com estruturas semelhantes a dentes, podendo conter pequenas pedras no seu interior, e que executa funções de trituração.


A moela é um músculo! Não um músculo qualquer, mas um do tubo digestivo, logo, passa comida ali. Ou seja, indiretamente, você, que gosta de moela, está comendo o que a galinha saboreou no seu último almoço. Fora a parte “estruturas semelhantes a dentes, podendo conter pedras”. Dentes, como assim? Que pedras? Pelo amor de Deus, parece um monstro.

– Mãe, frita um hambúrguer, por favor.
– Tá, meu filho.

2 comentários:

Leandro disse...

Olha que eu até gosto desse texto, viu..

Anônimo disse...

vc tem mania de perseguição com comidas não é não? Me destrui de tanto rir do modo como vc colocou as coisa sobre Moela.