domingo, 20 de setembro de 2009

A criação do universo segundo Leandro

Primeiro Deus criou um buraco tão grande quanto a sua própria imaginação. Não havia absolutamente nada nesse imenso e inimaginável vácuo. Quer dizer, não existia nem mesmo o vácuo, já que o ar também não fora inventado até então. Era uma imensidão de nada em toda a sua inexistência. Nada, nada mais que o nada.

Em seguida Deus criou o ar. Mas aquela nova invenção não tinha mínima graça, assim parada, estacionada em lugar nenhum. Veio então o vento, que recebeu a nobre tarefa de enviar os pensamentos de Deus a todos os cantos do buraco. Nessa época, o buraco ainda tinha cantos, esquinas, curvas e semáforos. Depois Deus decidiu tornar o buraco infinito, justamente para que os humanos (que viriam posteriormente) questionassem: “Como assim infinito, Deus?”.

Os pensamentos de Deus eram carregados de uma massa roxa, que, quando batia num canto do buraco, criava uma estrela. Se batesse numa estrela, criava-se um planeta. Vários planetas formavam uma galáxia. Várias galáxias formaram alguma coisa, que no momento me foge o nome.

Depois de alguns bilhares de anos celestes, Deus percebeu que não tinha a mínima graça em criar planetas, estrelas e galáxias, pois esses corpos estavam sempre sozinhos, um muito distante do outro. Foi nessa época que as estrelas decidiram cair. Caíram tanto, tanto, tanto, que viraram cadentes. Apesar de tudo, não havia vida. Então, depois de muito estudar, Deus misturou um punhado de massa vermelha a um pouco da azul, espremeu, bateu no liquidificador e colocou no forno. Saiu o rinoceronte.

Deus gostou do animal. Resolveu criar mais. Do rinoceronte veio a cabra, posteriormente o pingüim, em seguida surgiu a abelha, para depois aparecer o tigre. O felino evoluiu para o pato, vaca, tatu e baleia. Deus criou as baratas nesses dias. Arrependeu-se depois, mas não dava mais tempo: elas se espalharam por todo o universo.

Como os animais estavam com fome, Deus misturou um pouco das massas marrom e vermelha para criar, enfim, as plantas. Aquela imensidão de verde por todos os lados irritou os olhos de Deus. Para contrabalançar, ele criou a água, que a princípio era transparente...Depois é que começaram vê-la azul.

Os animais, as plantas e a água conviveram harmoniosamente por longos e longos milênios. Foram felizes enquanto duraram. Porém, num dia Deus teve a maravilhosa ideia de criar o ser humano. Os antigos habitantes do universo ficaram com um medo terrível de serem destruídos, afinal, esse novo invento gostava tanto de comer, que às vezes comia até os amigos da própria espécie.

Acontece que Deus se cansou de criar coisas. Não havia mais sentido nesse trabalho. Então, ele pegou uma nuvem branca (para as crianças, elas são azuis) e foi viajar de férias. Deixou a nobre tarefa de criador aos seres humanos. Deus só não imaginava que o homem fosse tão independente a ponto de criar coisas terríveis: as guerras, o dinheiro, a bomba atômica, a fila do INSS, o preconceito, o metrô lotado, a fome, o trânsito, a miséria, a corrupção, o creme de milho, a saudade.

sábado, 19 de setembro de 2009

About a girl

"Não sei o seu endereço, desconheço a sua cor favorita, não faço ideia de onde prefere ir aos domingos. Há dias tento adivinhar o número do seu tênis, o nome do seu perfume, as suas ambições para o próximo sábado... Quebrei a cabeça para adivinhar se você prefere álgebra ou psicologia. Imagino que você goste de maçã, mas prefira abacaxi após o almoço. Talvez seja vegetariana, ou ame hambúrguer com queijo. Não sei, não sei, não sei quase nada sobre você, Ana. Se você anda de bicicleta, eu não ainda não descobri. Com o carro, talvez você vá ao Planetário, só porque quer desequilibrar as estrelas com os olhos. Com o sorriso, causa terremotos no céu. Quando quer, transforma adultos em velhos, homens em mulheres, cegos em adoradores da Luz. Quem sabe se eu misturar oxigênio com níquel, descubra se você tem namorado. Anaaaaaaaaaaaa, também não falamos sobre nossos pais. Talvez os seus se chamem Ricardo e Maria ou Luciana e Rogério ou Paulo e Mariana...Tudo o que sei de você é seu nome. Ana".

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Notícias do Brasil

Olá, Nath!

Como você está? Tá gostando dos gringos?

Você não dá mais as caras no MSN! Eu também não dou, tudo bem, mas eu tinha que ter um motivo para te escrever, né? (risos)

Você acredita que eu sinto saudade de você? Pois é, mesmo a gente não se conhecendo pessoalmente, eu sinto. Penso bastante em você. Acho que eu prefiro você aqui em Minas mesmo, assim eu posso pelo menos ter a esperança de te ver um dia.

Os Estados Unidos são tão longe que nem em sonhos eu consigo te achar. Os sonhos vão voando, passam pela Venezuela, pelo Caribe, pelo México, mas acabam batendo em alguma fronteira cercada. Dizem que os guardas americanos estão barrando até pensamentos... sonhos, então, nem pensar. Ainda mais sonho brasileiro.

Aliás, falando nisso: ando sonhando muito ultimamente. Talvez eu devesse procurar um médico para tratar desse mal. Um dia desses, eu sonhei que estava na Avenida Paulista com uma garota desconhecida. Ela era turista (e lésbica). Ela me disse que viera a São Paulo para esquecer uma garota por quem era apaixonada. Achei estranho alguém vir para cá justamente para tirar uma pessoa da cabeça, pois aqui acontece justamente o contrário. Em São Paulo, ninguém esquece um amor. Os prédios, o frio, o cinza das ruas, a chuva diária, a tristeza das pessoas, tudo, tudo está lá para te lembrar. Essa cidade é o lugar perfeito para se sofrer de rejeição. Talvez no Rio seja diferente, ou em Minas também, não sei. Na Bahia, você acaba encontrando outra pessoa.

Essa garota do sonho me falou muito sobre a tristeza. Sem esse sentimento, seria simplesmente impossível escrever. Segundo ela, não existe escritor feliz. Todos são tristes ou inconformados. Todos querem mudar o mundo. Ou se não desejam isso, anseiam por conquistar a vizinha bonita.

Fiquei com isso na cabeça. Talvez eu escreva para mudar o mundo, mas acho que o faço principalmente para conquistar a vizinha bonita. E essa vizinha se apresenta sob muitas formas. Milhares de formas. Eu a vejo em todos os lugares que vou. Às vezes ela é morena, em outras, ruiva. Quando está sol, é loira.

Nessa semana, eu conheci uma outra forma da vizinha bonita. O nome dela é Ana. Tem o sorriso mais lindo do mundo. Ela me perguntou se eu gosto de poesia. Eu disse que não.


Um graaaande beijo, Nath. Aguardo notícias suas!
Leandro