sábado, 26 de dezembro de 2009

Sobre a noite e o ano

1) Nos aproximamos do bar, cambaleando. A noite nem cobriu o céu e já filosofamos sobre o amor. As mesas do bar estão postas no lado de fora, de modo a contemplar o frescor da lua e das pessoas. Vou ao balcão. Penso no trabalho dos garçons. “Deus, como sofrem”. Do lado de fora o meu amigo conversa com dois homens e uma garota bonita. Imaginei que ela fosse modelo pela finura do corpo e a beleza do rosto. Chego mais perto para participar da conversa. “Sou do interior, moro numa república”, ela diz.

2) Andamos pela avenida, que nesta noite recebe muita gente. Talvez turistas, não sei: felizmente não descubro a origem de uma pessoa pela cara. Olho para o lado: um garoto tem um saco na mão. “Baixinho, me dá uma moeda para eu me drogar”, ele pede. Não sei quem é o baixinho, afinal ele é bem menor que eu. O que responder? A causa brasileira me é um dilema. Torto, o meu amigo grita: “Sabe qual é o nosso problema, cara? É que a gente ama demais as mulheres, porra!”

3) Nos sentamos na calçada em frente a uma farmácia. Pensei em comprar um remédio que cure a dor de cabeça. O meu amigo deita e dorme no chão: tento imaginar o que ele sonha, pois o sorriso continua na boca. Arranho um Los Hermanos, sozinho. Creio que Los Hermanos deva ser cantado assim: sozinho. Ouço um carro se aproximar. Uma mulher desce e entra na farmácia. Quando volta, olha o meu amigo. “Ele bebeu bastante, né? Tá certo, tem que beber mesmo: esse ano foi uma merda!”

Feliz ano novo!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Olha a chuva!

As primeiras gotas caíram ralas, às quinze horas e trinta minutos. O vendedor de balas, que fazia ponto na calçada junta ao córrego, gritou: “Olha chuva!”. Todos levantaram as cabeças ao céu e viram o negrume das nuvens que cobriam a cidade: a calmaria se esvaiu juntamente com a poeira do asfalto. O chão preto ganhou nova textura, estava liso.

Na praça, um senhor deixou de lado as pedras do dominó. “Vai molhar a roupa no varal”, disse, e logo saiu correndo. Os demais velhos não compartilharam o medo e foram se esconder num açougue do outro lado da rua. “No meu tempo, não chovia tanto assim...”, lembrou um senhor, perspicaz.

O vendedor de balas guardou um pacote no bolso traseiro; em seguida tirou, não se sabe de onde, um enorme saco de guarda-chuvas: alguns eram coloridos, outros, de bolinhas amarelas sobre o fundo negro.“Olha o guarda-chuva!”, anunciou, aumentando o tom da voz por conta do estrondo das águas, que caíam forte. Uma grã-fina quis saber quanto custava um: havia esquecido o dela em casa. “Chove muito por aqui, não?”, disse, mexendo nos cabelos, que já ganhavam nova forma.

Um barulho esquisito cortou o ar: dois carros se chocaram em frente ao açougue. Os motoristas, enfurecidos, saíram dos automóveis e mancharam de água as suas camisas engomadas. “Você não sabe brecar?”, perguntou o primeiro, raivoso. “Eu sei, você que breca demais”, retrucou o segundo, com raiva.

Na rua ao lado, o senhor do varal desistiu de correr, pois se lembrou da esposa, que estava em casa e, provavelmente, já salvara as roupas da aguaceira. “A chuva logo passa”, disse a si mesmo, convencido que retornaria ao dominó. Ao caminhar, ele escorregou no piso molhado e torceu um pé. Retorcendo-se de dor, pegou o celular para ligar à ambulância. “O pior da chuva é o mundo que cai com ela”, lamentou-se.

A grã-fina arrumava os cabelos quando a água do córrego inundado lhe molhou os sapatos. “Credo!”, disse, com nojo do líquido barrento que cobria seus pés. “Eu não sabia que isso aqui alaga, moço”. O moço era o vendedor de guarda-chuvas. “Ninguém nunca sabe. Toda vez que inunda é uma surpresa”, respondeu ele, mostrando os dentes.

No açougue, os velhos lançavam conversa fora quando os motoristas acidentados trocaram socos. “Você sabe o quanto vai custar isso aqui?”, perguntou um deles – não se sabe qual –, apontando para uma parte amassada do veículo. De repente ouviram a sirene de uma viatura da polícia. “É melhor ir embora. Anota aí o meu telefone”, sugeriram ambos, parando a luta imediatamente.

O temporal diminuía aos poucos. Sentindo os pingos menores, o senhor caído levantou: estava bem, sem dor, e nada de ambulância! Os velhos do açougue retornaram à paz da praça, e à guerra do dominó. A grã-fina tirava os sapatos encharcados quando seu táxi chegou. Depois ela percebeu, espantada pela má sorte, que não tinha dinheiro para pagar a corrida.

O vendedor ainda segurava os guarda-chuvas enquanto caíam os últimos pingos. Pensou em voltar às balas. Parou um instante...Depois se virou ao céu: entre as nuvens, um raio de luz iluminava a cidade. “Olha o sol! Vai uma sombrinha aí, dona?”, gritou.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A velha cadeira

Do mesmo modo que os pais não entendem a juventude dos filhos, chega uma hora, depois da mudança dos anos, que os filhos também não entendem a velhice dos pais. Esse foi o pensamento de Daniel ao ver sua mãe sentada numa velha cadeira, um assento antigo, tão remoído pelo tempo, que ninguém tinha a melhor ideia à qual geração pertencia.

Daniel observou de longe as longas rugas da mãe. A esmo, calculou quantos seriam os anos até que a pele enrugada dela se transferisse para ele. Aos 30, não se imaginava velho, mas reconhecia que, quando jovem, também não se via adulto. A juventude é uma estrada reta; a velhice, uma rua cheia de curvas e postes.

Sua mãe, ali descansando os anos na cadeira, conhecia todos os segredos da existência de Daniel. Porém, ele, como todos os filhos, nunca chegou a conhecer por inteiro a pessoa que lhe jogou no mundo. A cada momento de sua vida uma faceta da mãe era revelada, uma recordação escondida era lançada fora. Daniel se lembrara da surpresa que sentiu ao saber que sua mãe era fã do Chacrinha; que ela, desejosa de aventura, certa vez viajou de moto às Minas Gerais; que sua amada mãe, sempre contida nos sentimentos, já sofrera por um amor perdido.

As brigas com ela, Daniel recordava sempre. Mesmo contrariado em admitir que, sim, fora estúpido algumas vezes, ele até achava graça nas discussões intermináveis por um pedaço de bife. Foram tão malucas aquelas gritarias por um lençol rasgado ou pela louça não lavada. Olhando-a agora, sentada, Daniel ressentiu-se por ter dito certa vez, com raiva na voz, que nada de bom aprendera com ela. Os filhos são quadros pintados pelos pais; depois os pais descansam e deixam os filhos criarem suas próprias pinturas.

Daniel imaginou no que sua mãe estaria pensando naquele momento. Os verdes e velhos olhos daquela senhora talvez tentassem encontrar no vazio alguma esperança de vencer o tempo. Daniel, ressabiado, concluiu que sua mãe conversava sozinha sobre a morte, sobre como seria o fim de seus anos, o último dos dias, em que lugar renasceria. Como é difícil entender os velhos, pensou. Por que o fim agora, mãe?

A curiosidade o arranhava, mas a prudência de tocar no assunto fatal era mais forte e o mantinha preso. Sua mãe viajava através dos olhos, perdida em divagações. Devagar, Daniel chegou mais perto da cadeira. Enfim, encarando o receio, perguntou.

– No que a senhora está pensando, mãe?
– Em nada importante, meu filho. Estou apenas lembrando do meu primeiro beijo.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Garotas cruéis

As três garotas entraram, olharam ao redor e decidiram se sentar ali mesmo, no chão, desprezando todos os bancos vazios daquele metrô. Não lembraram elas que a oportunidade de viajar no conforto de um banco não é para qualquer um. O fato deve ser comemorado com peito estufado e uma boa leitura nas mãos.

Mas não, a três garotas preferiram o frio e a dureza do chão preto. Lá embaixo, longe da visão dos outros, elas conversaram, riram-se, trocaram confidências amorosas, soluçaram paixões adolescentes e desprezaram a tediosa tarde das pessoas que, diferentemente delas, procuravam felicidade nesse mundo de Deus.

Enquanto elas falavam, alheias a tudo, reparei em cada uma, imaginei o por que de estarem ali. Talvez voltassem da escola, sei lá, talvez estivessem viajando a algum lugar, ou a lugar algum. Possivelmente, elas acordaram cedo e resolveram exibir seus perfis alegres por aí, causando inveja nos idiotas que ainda se preocupam com as responsabilidades e infelicidades do trabalho (e da vida). Não há nada mais deprimente que ver nos outros a felicidade que não se enxerga em si próprio.

Uma das garotas era uma loira de cabelo curto. Aquele curto que migra entre o masculino e o feminismo. Lindo, intrigante e instigante. O mistério das loiras mora em seus cabelos, naturais ou não. Ela vestia uma calça preta, uma sandália roxa e uma camiseta branca onde se lia: “Drink like a man”.

A outra garota sentada no chão era mestiça. Em seus olhos puxados, uma mistura de culturas. No oriente de seu corpo, viajei feliz ao Japão, voei em seus campos de trigo, imaginei conversas com gueixas e samurais centenários. Do outro lado do mundo, aquela linda garota usava All Star e camisa de banda de rock.

Por fim, a terceira integrante do grupo era morena de olhos azuis. O mistério das morenas está na conquista: quanto tempo demora a nos apaixonarmos por elas? A morena sorria, feliz por estar ali, sem saber que também estava aqui, em mim. Olhava para as amigas e se achava nelas. Magrinha, mas esbanjando presença, ela era a mais bonita das três.

Durante um longo período eu as observei, absorto. Somos enormes nos sonhos e tão pequenos em pesadelos...complicado mesmo é acordar e nos descobrirmos do tamanho real. A realidade dói, a infelicidade destrói...Garotas cruéis essas três no chão do metrô. Felizes e cruéis.

sábado, 14 de novembro de 2009

Eu acredito

É incrível a capacidade das pessoas em acreditar. Eu, por exemplo, acredito em muitas coisas: ciência, psicanálise, teoria da conspiração e da inspiração; acredito na minha mãe, no meu cachorro e nos meus amigos; acredito em vida alienígena, em monstros no oceano, em sereias na piscina; acredito nas mulheres que não me amaram a vida inteira, mas sim por um eterno beijo de um minuto no canto do bar; acredito na grandeza do amor, mesmo sabendo que um amor só é grande quando acaba; acredito nas breves paixões do metrô, que, de tão rápidas, me encontram no Paraíso e me deixam sozinho na Consolação; acredito em Deus, sim... quer dizer, talvez Deus que não acredite muito em mim; acredito no presente, pois ele é mais bonito que o passado que não vi e mais real que o tempo que advir; acredito em poemas que não entendo, em luzes que não vejo, em sonhos que não sonho; acredito nas viagens que fiz e naquelas que nunca vou fazer; acredito nas mulheres, mesmo desacreditando depois; acredito em mim, porém às vezes invento verdades para me confortar; acredito no silêncio, pois é nele que me escondo quando não tenho mais nada pra falar.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Elas

Marcela
Ela é doce como brigadeiro, mas é capaz de ficar tão amarga quanto o agrião. Marcela coleciona luz, ou seja, é fotógrafa. Ela aponta sua Cyber shot para o alto e prende as nuvens com formatos estranhos. Já capturou nuvem passarinho, nuvem coração, nuvem peixe e nuvem tristeza. Para Marcela, o céu tem humor: quando ele fica zangado, manda litros de água abaixo; na felicidade, o céu se mancha de azul, cola no chão e conversa com alguma árvore faladeira. Marcela acredita no amor.

Gabriela
Ela dorme à tarde, estuda de manhã e sonha à noite. Gabriela já sonhou que era muitas coisas: um passarinho, uma nuvem e um peixe. A moça quer ser aeromoça, pois deseja que o céu mande alguém para lhe roubar o coração. Gabriela não bebe água, mas se alimenta de luz, pois clareia o pensamento, segundo ela. Se pudesse escolher uma outra forma para o corpo, a garota seria uma árvore, ou talvez um brigadeiro. Nunca agrião. Gabriela acredita em felicidade.

Isabela
Ela viajou para muitos lugares no próprio corpo. Percorreu os caminhos do coração, nadou como um peixe pelo o humor e pingou no rio dos sonhos. Isabela deseja conhecer os outros: vai ser médica. Nunca rezou ao céu, pois nele só enxerga nuvens. Se pudesse mudar duas coisas no mundo, faria o brigadeiro menos doce e a noite mais escura. Isabela dormiu três dias seguidos quando lhe contaram que o amor tem um formato estranho: é um passarinho que voa para longe quando mais o chamamos para chão. Isabela acredita na tristeza.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Cooperifa

“Não! Ali não pode estacionar...é o ponto de ônibus”, alguém gritou de dentro do Bar do Zé Batidão, orientando o local onde os veículos visitantes deveriam ficar. “Você pode deixar o carro ali embaixo, assim fica mais fácil para quando vocês forem embora”, aconselhou. Ir embora? Não, não, impossível. Sair da Cooperifa é tão difícil quanto chegar. Ninguém vai embora de lá: talvez os corpos, sim, mas transformados, com certeza. O coração e a alma ficam naquelas mesas para sempre.

O Sarau Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia) acontece todas as quartas-feiras, no Jardim Guarujá, lá quase perto da lua, tantas vezes cortejada. Como diz o poema de Sérgio Vaz, “no cume do subidão do piraporinha, perto das nuvens e longe da superfície, terreno fértil para o plantio de poemas e poetas".

No Sarau da Cooperifa você vai encontrar: cinco grandes fileiras de mesas de plástico vermelho (e mais algumas mesinhas solitárias, para o caso de o poeta não ter amigos); garrafas de cerveja que causam hipotermia em mãos e gargantas desavisadas; escondidinho de carne seca, tão cheiroso que dá vontade de declará-lo amor eterno; dois banheiros; uma árvore conservada no meio do bar, que se tivesse voz, também faria poesia.

Mas no Sarau da Cooperifa encontra-se principalmente: poesia e poetas. Poetas negros, poetas brancos e amarelos, poetas de cabelos grandes, curtos, enrolados. Poetas de peruca. Poetas jovens e velhos. Alguns poetas são cozinheiros, outros limpam com versos os prédios da classe média. Há poetas motoristas e poetas motoboys. Poetas alunos, ou professores, poetas que cantam rap...Assim, de poeta em poeta, a Cooperifa transforma as dificuldade cotidianas da periferia em rimas de alegria. “Aqui todos são chamados de poetas”, diz Marcio Batista, que nas horas vagas é professor de educação física, mas tem a poesia como profissão.

“Só faltei ao Sarau três vezes: quando eu estava em um congresso, uma eu não consegui chegar a tempo e última foi quando meu filho quebrou o pé”, lembra Marcio, um dos mentores do grupo. “O Sérgio Vaz e eu andamos juntos desde moleque, ele me incentivou a começar a escrever. E hoje estou aqui, com nove livros publicados”.

Inspirada na Semana de Arte Moderna de 1922, o primeiro encontro da Cooperifa reuniu cerca de 150 pessoas, entre elas, artistas de diversas áreas, como a literatura, a música e o teatro. “No começo, era um monte de poetas na calçada sem ter o que fazer. Depois o pessoal começou a se apresentar, recitar seus poemas”, diz Marcio. Nove anos depois, são mais de 400 pessoas por encontro. O Sarau, aliás, não é o único evento da turma: há também o “Cinema na Laje”, o “Ajoelhaço” (quando os homens se ajoelham em perdão às mulheres) e o “Poesia no Ar”, ideia de Sérgio Vaz, que colocou poemas em bexigas e as soltou pela cidade.

Além de idealizador da Cooperifa, o poeta Sérgio Vaz, também conhecido como Colecionador de Pedras, é quase um puxador de samba. Vai ao palco, pega o microfone e incendeia o seu público para o espetáculo que vem a seguir. “Boa noite, povo lindo, povo inteligente! Na Cooperifa, o movimento cultural de periferia para periferia! Todo mundo aqui é bem-vindo: gente de todos os credos, cores e dores! É tudo nooossooooo!”

Às nove horas em ponto começam as apresentações, cuja única regra é: “silêncioooo”, o silêncio que todos escutam felizes. O vácuo só é invadido pelas vozes dos poetas, que recitam de diversas maneiras: alguns interpretam como atores de verdade, subindo em cadeiras e chamando o público a participar, outros leem com o swingado do rap ou do samba, tocado no cavaquinho e no coração.

Na Cooperifa, os assuntos fogem um do outro: em um momento é a violência ou a exclusão social sofrida pela periferia, no seguinte, o amor declarado pelo Seu Lourival, poeta de corpo, alma e peruca. Saudade, encontros, paixões e desencontros, morte, vida, tudo, tudo...todo o mundo cabe nas palavras de um poeta. “Eu não sabia, mas a poesia é que nos faz feliz”, canta Dengue, que pela primeira vez apresenta seus versos.

Ele tem razão. Às onze horas, quando as cortinas se fecham no sarau, é impossível deixar de ser feliz.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

A Luz nossa de cada dia

Dário levanta seus olhos azuis para a imensa Luz que o cerca. Não vê nada. Quis o destino, ou a vontade daquele que disse “faz-se luz”, que Dário Emiliano seria cego desde o nascimento. Já se passaram 20 anos desde então. Quando não está com a esposa, o rapaz invade o espaço com a ajuda da bengala. É ela quem diz onde ele está: “Um lugar enorme, com muitas pessoas e luzes, me parece um tanto perigoso”.

A destemida bengala acerta o alvo. Seu dono está no centro do saguão de entrada da mais importante estação de trem de São Paulo: Luz. Dário é apenas um entre as 280 mil pessoas que, segundo a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), passam diariamente por essa gigantesca estrutura de ferro, pedra e cimento.

A estação, inaugurada em 1901, conta a história recente da metrópole paulista. No início do século passado, os trens saiam carregados de sacos café. Atualmente, eles transportam pessoas, além de toda a pressa da cidade que não para nem para observar a si própria. Dentro da estação são milhões de histórias e conflitos a serem descobertos. Suas luzes iluminam rostos de todos os tipos e formas, de diferentes classes sociais, sonhos e esperanças. A Luz é uma metonímia do Brasil.

Do lado de fora, as nuvens negras mancham o céu com as incertezas que só uma chuva pode causar em São Paulo. Dário não vê, mas sente a tempestade se aproximar. Ele aguarda a esposa aparecer. “Acho que vou ligar para ela”, diz, com a voz tímida.

As estagiárias
Quando alguém percebeu, o homem já havia passado pela catraca com dois carrinhos lotados de guloseimas. Doces, balas, chicletes, salgados...“Você só pode entrar com um por vez”, grita Camila Santos, sorrindo tanto que nem parece estagiária. “Só vou abastecer a loja ali e já saio”, retruca o homem. Camila pensa... “Não, não pode, você sabe disso”. Essa discussão se repete a 11 meses, desde que Camila começou a organizar o entra e sai da estação. “Nós ganhamos 460 reais para agüentar esse cara, não é, Ana?”

Ana Paula, também estagiária, não ouve a amiga: está com tanto sono que sonha sem tirar os pés do chão. “É, é...”, resmunga. Ana acordou às 5h30 da madrugada, tomou café, pegou o ônibus para a escola, estudou, não almoçou, veio correndo para a Luz e (ufa!) agora sente um perfume de homem. “Lá vem você com esses cheiros estranhos”, diz Camila. “Esses dias eu senti cheiro de caldo Knorr”, conta Ana.

Inseparáveis dentro da estação, as duas estagiárias decidiram percorrer trilhos diferentes no futuro. Não desejam trabalhar na CPTM para sempre. Enquanto dita quem pode passar pela catraca, Camila treina o seu sorriso aparelhado. Quer ser dentista. “Quando era pequena, eu fui ao consultório e achei tudo tão lindo”, lembra. Já Ana, séria, sentencia: “Vou ser psicóloga”.

“Ana, vamos almoçar, está na hora”, sugere Camila. “O que será que tem na marmita hoje?”, pergunta-se Ana, balançando os cabelos lisos. As garotas sobem a escada rolante aos pulos. Em seguida, atravessam uma das quatro plataformas da estação, rumo ao refeitório. Elas são observadas por Jesus, que a tudo contempla encostado em uma parede do outro lado da estação.

Seu Jesus
Jesus Fernandes, 54 anos, não carrega uma cruz, mas sim uma pá e uma vassoura. É faxineiro dos trens. Quando encosta uma minhoca de ferro, ele entra, recolhe uma sujeira ou outra e retorna muro de observação. Em média, o faxineiro limpa 35 trens por dia em oito horas de trabalho.

Seu Jesus, como é conhecido pelos outros faxineiros, só tem grandeza no nome, pois dos pés à cabeça não mede um metro e cinqüenta. O bigode e o cabelo – ralos – carregam os fios brancos da idade e do sofrimento. “Minha ex-esposa me trocou por vendedor de papelão”, conta. “Depois ela matou o cara com um chá envenenado, sou a única testemunha”.

Desde então, esse pequeno homem de Feira de Santana (BA) não tem lar fixo. “Prefiro não falar onde moro”. Para Jesus, todos os lugares são iguais. Até a Estação Luz? “Sim, aqui os pombos também despejam uma tonelada de coco em cima da gente”.

Há 19 anos limpando estações e trens, Jesus quase não ouve mais os desejos de suas duas filhas. Ele está quase surdo. “Ninguém percebe, mas o barulho dos trens me tirou quase 100% da audição”. Por isso ele observa o mundo acontecer, sempre encostado em sua parede de observação.

Passageiros
Em uma enorme sacola branca, Amaro Francisco Lima leva um casamento. Não o dele, mas o do afilhado Edmar, que no último sábado trocou alianças com a jovem Bruna. Coube a Amaro devolver o vestido e o terno dos noivos à loja “Center Noivas”, localizada em uma das entradas da Luz. Por isso, esse pernambucano espera passar a chuva que se anuncia grande.

“Vim para São Paulo com 19 anos”, lembra Amaro. Hoje com 43, ele aprendeu que a metrópole, às vezes, promete sonhos, mas entrega sofrimento. “Trabalhava como segurança de um posto de gasolina no Jabaquara. Um dia, uns ladrões entraram e atiraram três vezes contra mim: um na barriga, um no intestino e o último no pulmão”. Amaro sobreviveu porque Deus lhe deu a vida, segundo ele. “No mesmo dia, um outro funcionário do posto levou um tiro no pulso e morreu”.

Amaro, como muitos nordestinos, trouxe não só o sotaque e a força de trabalho para o maior centro comercial do País. Na mala, esses milhares de retirantes trazem a esperança de vencer. Os trens, que a todo minuto chegam e saem da Luz, estão cheios de pessoas como Amaro. Eles vieram da “periferia” do Brasil para o subúrbio de São Paulo. Melhoraram de vida? Talvez sim, mas para isso sentem diariamente os sofrimentos urbanos. Levam tiros para colocar gasolina nos carros da classe média. Se empurram e se espremem nos trens porque têm de limpar os prédios onde são feitos os negócios milionários. Eles entram nos trens porque necessitam comer, criar os filhos, viver melhor...precisam vencer.

***

Carlos Alves não é feito de saudades, mas sim de lembranças. Em uma câmera fotográfica, ele guarda a Luz para mostrar à eternidade. Anda pela estação e registra seus melhores ângulos, seus cantinhos centenários, seu aço trazido de navio. Carlos, turista dentro da própria cidade, conhece a história da São Paulo Railway, empresa detentora das linhas férreas do Estado por longos e ricos anos. Época do reinado do café. O ouro verde era tão poderoso que foi capaz de colocar no mapa do Brasil uma cidade até então colonial.

Com 108 anos de idade, a Luz representa um resumo recente da história da maior cidade do País. Depois da abundância do café, que criou prédios e riqueza, a estação viu crescer ao seu redor uma metrópole sem planejamento algum. Os 240 mil habitantes, em 1900, se transformaram em 12 milhões, em 2009.

O ano de 1946 marcou a transformação da cidade. O fogo tomou conta da estação e levou com ele os trens carregados de café. Depois do famoso incêndio, as minhocas de ferro adquiram a função de levar ao centro a multidão vinda dos subúrbios. Em 2000, a obsoleta estação da Luz ganhou uma grande reforma estrutural.

“Antes da reforma, as plataformas eram de madeira”, recorda Carlos. “Agora a Luz está linda, mas não sinto falta daqui nem de São Paulo”. Carlos fez o caminho contrário dos milhares de migrantes que chegam diariamente à cidade. Colocou na mala as roupas e os sonhos e foi morar em Lima, no Peru. Está lá há 10 anos e nem pensa no trem de retorno. Encontrou mais oportunidades lá do que em sua cidade natal. “Em Lima, dei muita sorte. Tenho uma agência de turismo para sul-americanos que desejam conhecer o nosso continente...Aliás, você já foi nos Andes?”, pergunta.

O paulistano voltou a cidade para mostrar ao sócio peruano Jaime Queiroz a beleza à européia da estação, pois, afinal, a Luz é inglesa até nos parafusos. O peruano repara: “Isso tudo é muito lindo. Na Luz é possível encontrar vários tipos de expressões humanas: pessoas alegres, tristes, preocupadas...isso não existe em Lima”. Aportuguesando o espanhol, Jaime compara: “No Peru, as mulheres também não são tão bonitas”.

Aaah, agora uma saudade de Carlos é finalmente revelada. “É, lembrei...sinto falta de duas coisas de São Paulo: as mulheres e a pizza”. Mas qual das duas preciosidades traz mais saudosismo, Carlos? “Huumm, deixa-me pensar... A pizza!”

O piano
“Amigo, toca mais uma pra gente”, grita alguém no saguão de entrada. Dário Emiliano, que começava a discar o número da esposa, para de repente. “Opa”, responde. Dário não enxerga com os olhos, mas suas mãos sabem exatamente o lugar das teclas de um piano. Ele caminha até o instrumento, se senta no banquinho e começa a exibir os seus dotes musicais.

Colocado lá em 2008, como parte da programação da Mostra de Artes do SESC, o piano da Luz tornou-se símbolo da democracia. Pessoas de todos os tipos, gêneros, cores e dores, aparecem para ouvir ou mesmo tocar. Dário é um deles. “Toco desde os 10 anos, aprendi sozinho”, conta.

O piano da Luz tem em suas teclas brancas algumas marcas negras, pois as mãos de João Carlos, o Joãozinho da Gaita, não são lavadas há alguns dias. O pianista (ou gaitista, como prefere) dorme logo ali, atrás de uma banca de jornal da Cracolândia. Ele acorda cedo e logo vem tocar suas músicas. “Sou artista de rua, tenho sangue cigano, gosto de tocar Roberto Carlos e vim atrás da minha esposa, que fugiu para São Paulo”, diz, sorrindo. Joãozinho é usuário de craque, mas prefere não tocar no assunto.

Já Rogério Santos, que apenas observa os outros tocar, não esconde. “Uso craque desde 1996”. Rogério também vive na Cracolândia, mas não se considera morador de rua: prefere ser chamado de andarilho. “Respiro a Luz, conheço tudo desse lugar, as prostitutas, os noias e principalmente a arquitetura, que me lembra a Inglaterra”, conta. Do país europeu, ele também conhece a língua. Aliás, não só fala inglês como também espanhol. Rogério só não gosta de poesia. “Não sei, acho os poemas muito fantasiosos, gosto mais da Clarice Lispector”, revela.

Rogério pede dinheiro a quem passa. Tem mais moedas nas mãos que dentes na boca. “Sou pedinte”, define. Suas roupas são sujas e seus os olhos revelam dureza. É difícil olhar para ele. “A única esperança que tenho é a morte”, diz. Em seguida, volta a sua atenção para o piano, nas mãos sujas de Joãozinho da Gaita novamente.

Entre uma nota e outra, o artista de rua canta: “Eu sou apenas um pedaço de alguééém...”. De repente, um trovão cala a todos. Vai chover daqui a pouco...

Preferencial
Camila e Ana Paula retornam do almoço às 16 horas. “Agora, vamos cuidar do preferencial, lá tudo é muito polêmico”, amedronta Camila. Nas estações mais movimentadas, como a Luz e o Brás, a CPTM reserva, no horário de pico, o primeiro vagão aos idosos, às crianças, às grávidas, às pessoas com deficiência ou com alguma doença grave. As estagiárias são as responsáveis por determinar quem se encaixa nessas condições. Elas são ofendidas, ouvem reclamações, gritos de passageiros inconformados, propostas de suborno, entre outras coisas. “Aqui, precisamos de duas mães: uma nossa e outra apenas pra ser xingada”, brinca Ana.

O problema surge quando o primeiro vagão sai vazio, enquanto os outros vão lotados de pessoas espremidas. “Uma criança de três anos vai lá sentada e nós, que trabalhamos o dia inteiro, vamos em pé”, reclama uma passageira. Outro homem, com a mão na boca, pergunta: “Dor de dente passa para o preferencial também?” Nããããããooo!

A plataforma enche em poucos minutos e o fluxo de trens não é capaz de carregar essa demanda. Cansados do trabalho, o que todos não desejam é encarar um vagão lotado a essa altura do dia. Por isso, muita gente tenta embarcar no conforto do preferencial mesmo sem estar dentro das especificações. “Você tem 59 anos, não pode passar”, Ana barra uma senhora. “Quando você tiver a minha idade, vai ver o que é bom, menina”, rebate a passageira, nervosa. Com a paciência dos psicólogos, Ana apenas sorri.

“Por favor, você pode me dar o laudo médico”, pede Ana a um homem com cara de doente. “Espera aí”. O rapaz, já meio amarelo, tira o papel da carteira. “Donizete? Mas isso é nome de mulher”, retruca a estagiária. “Como assim, moça? Você está me estranhando? Meu nome é esse mesmo!”. Ana olha para o homem, desconfiada. “Aaaaah, me desculpe, achei que fosse nome de mulher”. O rapaz doente passa para o preferencial, vai confortável até seu destino final. Todos riem.

Mais um dia na Luz
A Estação da Luz é um retrato da maior da cidade do Brasil. Talvez até do próprio País. É enorme e traz rostos e culturas diferentes, como disse o peruano Jaime. Sonhos e esperança também não lhe faltam, pois a Luz foi concebida justamente para demonstrar o desejo de uma vila que se via grande. Pela Estação, passam milhares de pessoas todos os dias, entre funcionários – são 150 no total – e gente que apenas passa, porque, afinal, são passageiros.

Muitos têm pressa: rumam ao trabalho ou a um chefe que não tolera atrasos. Outros carregam casamentos em sacolas, como o nordestino Amaro que, ao toque do celular, decide ir embora. Maridos traídos não carregam uma cruz, pois o peso da vassoura e da pá é ainda maior: então, observam o mundo, como o Seu Jesus. Aqueles que não veem com os olhos tem mãos feitas para a música: lá vai o pianista Dário Emiliano entrar no trem com a esposa grudada aos braços...

No saguão de entrada, Joãozinho da Gaita ganha R$ 2 de uma mulher que admira sua música. O rapaz, esbanjando felicidade, corre pelo espaço mostrando a nota a todos que encontra pela frente. Rogério Santos se vira: durante um longo período não tira os olhos do dinheiro de Joãozinho. Seu vício de craque fala mais alto que qualquer personagem de Clarice Lispector.

Dentro da Estação, Camila, a estagiária sorridente, passa correndo por uma plataforma. O horário de pico acabou e, finalmente, ela vai para casa. Ana também, mas antes ouve um poema de um passageiro, que se diz apaixonado por ela. “Você gosta de poesia?”, pergunta Ana. “Não”, ele responde. “Só gosto de você”.

A chuva começa forte. Um céu inteiro desaba no teto arredondado da Estação, causando um barulho que espanta até os pombos lá em cima. Como um trem, a energia elétrica vai embora. A escuridão toma conta de tudo, mas a Luz não se apaga nunca.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Amanhã, sem falta

Num mundo mais ou menos justo, a chuva viria para refrescar nossas convicções e não traria incertezas e enchentes em seus pingos de desesperança, como anda acontecendo. Porém, aqui, nesta terra de prédios inalcançáveis e vendedores de maçãs do não-amor, eu continuo tão tímido quanto uma árvore sem folhas. Talvez seja mais fácil uma girafa recitar um poema modernista que eu assumir o romantismo grudado nos meus cabelos, olhos e letras. Não sei, não sei, tudo parece tão simples para as pessoas, tão fácil...Mas tudo bem, amanhã, sem falta, vou subir numa mesa de bar para gritar a todos os bêbados que amam: “Pessoal, eu a amo mais que o número de anos da Hebe”.

domingo, 20 de setembro de 2009

A criação do universo segundo Leandro

Primeiro Deus criou um buraco tão grande quanto a sua própria imaginação. Não havia absolutamente nada nesse imenso e inimaginável vácuo. Quer dizer, não existia nem mesmo o vácuo, já que o ar também não fora inventado até então. Era uma imensidão de nada em toda a sua inexistência. Nada, nada mais que o nada.

Em seguida Deus criou o ar. Mas aquela nova invenção não tinha mínima graça, assim parada, estacionada em lugar nenhum. Veio então o vento, que recebeu a nobre tarefa de enviar os pensamentos de Deus a todos os cantos do buraco. Nessa época, o buraco ainda tinha cantos, esquinas, curvas e semáforos. Depois Deus decidiu tornar o buraco infinito, justamente para que os humanos (que viriam posteriormente) questionassem: “Como assim infinito, Deus?”.

Os pensamentos de Deus eram carregados de uma massa roxa, que, quando batia num canto do buraco, criava uma estrela. Se batesse numa estrela, criava-se um planeta. Vários planetas formavam uma galáxia. Várias galáxias formaram alguma coisa, que no momento me foge o nome.

Depois de alguns bilhares de anos celestes, Deus percebeu que não tinha a mínima graça em criar planetas, estrelas e galáxias, pois esses corpos estavam sempre sozinhos, um muito distante do outro. Foi nessa época que as estrelas decidiram cair. Caíram tanto, tanto, tanto, que viraram cadentes. Apesar de tudo, não havia vida. Então, depois de muito estudar, Deus misturou um punhado de massa vermelha a um pouco da azul, espremeu, bateu no liquidificador e colocou no forno. Saiu o rinoceronte.

Deus gostou do animal. Resolveu criar mais. Do rinoceronte veio a cabra, posteriormente o pingüim, em seguida surgiu a abelha, para depois aparecer o tigre. O felino evoluiu para o pato, vaca, tatu e baleia. Deus criou as baratas nesses dias. Arrependeu-se depois, mas não dava mais tempo: elas se espalharam por todo o universo.

Como os animais estavam com fome, Deus misturou um pouco das massas marrom e vermelha para criar, enfim, as plantas. Aquela imensidão de verde por todos os lados irritou os olhos de Deus. Para contrabalançar, ele criou a água, que a princípio era transparente...Depois é que começaram vê-la azul.

Os animais, as plantas e a água conviveram harmoniosamente por longos e longos milênios. Foram felizes enquanto duraram. Porém, num dia Deus teve a maravilhosa ideia de criar o ser humano. Os antigos habitantes do universo ficaram com um medo terrível de serem destruídos, afinal, esse novo invento gostava tanto de comer, que às vezes comia até os amigos da própria espécie.

Acontece que Deus se cansou de criar coisas. Não havia mais sentido nesse trabalho. Então, ele pegou uma nuvem branca (para as crianças, elas são azuis) e foi viajar de férias. Deixou a nobre tarefa de criador aos seres humanos. Deus só não imaginava que o homem fosse tão independente a ponto de criar coisas terríveis: as guerras, o dinheiro, a bomba atômica, a fila do INSS, o preconceito, o metrô lotado, a fome, o trânsito, a miséria, a corrupção, o creme de milho, a saudade.

sábado, 19 de setembro de 2009

About a girl

"Não sei o seu endereço, desconheço a sua cor favorita, não faço ideia de onde prefere ir aos domingos. Há dias tento adivinhar o número do seu tênis, o nome do seu perfume, as suas ambições para o próximo sábado... Quebrei a cabeça para adivinhar se você prefere álgebra ou psicologia. Imagino que você goste de maçã, mas prefira abacaxi após o almoço. Talvez seja vegetariana, ou ame hambúrguer com queijo. Não sei, não sei, não sei quase nada sobre você, Ana. Se você anda de bicicleta, eu não ainda não descobri. Com o carro, talvez você vá ao Planetário, só porque quer desequilibrar as estrelas com os olhos. Com o sorriso, causa terremotos no céu. Quando quer, transforma adultos em velhos, homens em mulheres, cegos em adoradores da Luz. Quem sabe se eu misturar oxigênio com níquel, descubra se você tem namorado. Anaaaaaaaaaaaa, também não falamos sobre nossos pais. Talvez os seus se chamem Ricardo e Maria ou Luciana e Rogério ou Paulo e Mariana...Tudo o que sei de você é seu nome. Ana".

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Notícias do Brasil

Olá, Nath!

Como você está? Tá gostando dos gringos?

Você não dá mais as caras no MSN! Eu também não dou, tudo bem, mas eu tinha que ter um motivo para te escrever, né? (risos)

Você acredita que eu sinto saudade de você? Pois é, mesmo a gente não se conhecendo pessoalmente, eu sinto. Penso bastante em você. Acho que eu prefiro você aqui em Minas mesmo, assim eu posso pelo menos ter a esperança de te ver um dia.

Os Estados Unidos são tão longe que nem em sonhos eu consigo te achar. Os sonhos vão voando, passam pela Venezuela, pelo Caribe, pelo México, mas acabam batendo em alguma fronteira cercada. Dizem que os guardas americanos estão barrando até pensamentos... sonhos, então, nem pensar. Ainda mais sonho brasileiro.

Aliás, falando nisso: ando sonhando muito ultimamente. Talvez eu devesse procurar um médico para tratar desse mal. Um dia desses, eu sonhei que estava na Avenida Paulista com uma garota desconhecida. Ela era turista (e lésbica). Ela me disse que viera a São Paulo para esquecer uma garota por quem era apaixonada. Achei estranho alguém vir para cá justamente para tirar uma pessoa da cabeça, pois aqui acontece justamente o contrário. Em São Paulo, ninguém esquece um amor. Os prédios, o frio, o cinza das ruas, a chuva diária, a tristeza das pessoas, tudo, tudo está lá para te lembrar. Essa cidade é o lugar perfeito para se sofrer de rejeição. Talvez no Rio seja diferente, ou em Minas também, não sei. Na Bahia, você acaba encontrando outra pessoa.

Essa garota do sonho me falou muito sobre a tristeza. Sem esse sentimento, seria simplesmente impossível escrever. Segundo ela, não existe escritor feliz. Todos são tristes ou inconformados. Todos querem mudar o mundo. Ou se não desejam isso, anseiam por conquistar a vizinha bonita.

Fiquei com isso na cabeça. Talvez eu escreva para mudar o mundo, mas acho que o faço principalmente para conquistar a vizinha bonita. E essa vizinha se apresenta sob muitas formas. Milhares de formas. Eu a vejo em todos os lugares que vou. Às vezes ela é morena, em outras, ruiva. Quando está sol, é loira.

Nessa semana, eu conheci uma outra forma da vizinha bonita. O nome dela é Ana. Tem o sorriso mais lindo do mundo. Ela me perguntou se eu gosto de poesia. Eu disse que não.


Um graaaande beijo, Nath. Aguardo notícias suas!
Leandro

sábado, 29 de agosto de 2009

A saga do amor insatisfeito

O garoto tinha um problema maior que o número de gotas de água no oceano: o amor por sua namorada sempre lhe escapava do corpo. Era incontrolável: o sentimento era tão grande, tão extraordinário, tão maravilhosamente maravilhoso, que não cabia dentro do coração pulsante. Ele fugia pela boca, pelo nariz, pelos olhos e pensamentos.

Por vezes, quando o garoto falava com outra mulher, lá ia o amor embora com as palavras feitas de encantamento...Em outros instantes, ele pulava das janelas dos olhos, passeava com o vento e decidia que o melhor mesmo era viver sozinho. O amor também voava com os pensamentos do garoto, indo pousar nos cabelos de uma loira mais linda que o sol.

O garoto não viu outra solução: resolveu trancar o corpo com uma aliança de prata na mão direita. Procurou o anel por todos os reinos, bosques e shoppings centers que conhecia. Acabou comprando duas alianças no supermercado da esquina; uma para ele e outra para o amor da namorada, para o caso de ele resolver fugir também.

Acontece que nenhum anel de prata era tão forte a ponto de trancar o amor no peito. Ele continuava fugindo do coração do garoto. Certa vez, embebedou-se de desejo, perdeu o sentido e acabou acordando na cama de uma ruiva mais linda que a lua. Nesse dia, o amor ficou tão fraco, tão magrinho, que esqueceu o nome, a cor e o significado.

“O que vou fazer?”, perguntou o garoto. Decidiu procurar ajuda: falou com bruxas, ciganas, rainhas e terapeutas de casais. Todos tinham o mesmo conselho: “para trancar o amor, você deve trocar a aliança de prata por uma de ouro, mas agora colocá-la na mão esquerda”. O garoto, esperançoso, o fez.

Por um tempo, o amor aquietou-se no peito. Não saia nem para tomar cerveja com os amigos. A namorada do garoto (agora era esposa) amansava o amor lhe preparando uma poção noturna. O líquido era feito de flores, açúcar e paciência.

Porém, num dia o amor esqueceu de tomar a poção da esposa. Conseguiu fugir. Foi embora meio à francesa, meio sem querer, querendo...Simplesmente abriu a porta e saiu com uma carta de divórcio na mala.

O amor fora embora para sentir os lábios da liberdade. Afinal, desde o início era todo esse o seu desejo: queria voar ao lado do vento para procurar uma morena mais linda que o céu.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

O céu de Amaury

Em um dia funesto, a Morte chegou a uma conclusão tão catastrófica quanto uma queda de avião: “na vida, há coisas piores que a morte”, constatou. Então, a misteriosa figura foi visitar o aposentado Amaury Guedes, 74 anos não por vontade própria, mas porque quis assim o Destino. A Morte gostou de Amaury Guedes e, como não podia dar-lhe de presente o cargo, lhe entregou o uniforme preto.

Desde então, esse homem de fala mansa persegue a vida em protestos pelo país. Foi no acidente da TAM, no buraco do metrô, na Parada gay: onde tiver um aglomerado de insatisfeitos, lá estará Amaury e a sua fantasia de morte. Talvez ele seja a pessoa que mais foi à manifestações no planeta, mas o livro dos recordes ainda não se interessou por essa marca. “Eu fico lá sentado no muro, apareço na TV, tiro fotos”, diz, com a determinação e o Bilhete Único pendurados no pescoço. Ele reivindica o fim da diminuição progressiva de sua aposentadoria especial. “Minha aposentadoria é como gelo: derrete cada vez mais”, lamenta.

Amaury Guedes percebeu o tamanho da injustiça do mundo quando teve de comprar moela e asa de galinha no lugar do filé mignon. Com a aposentadoria que tem hoje, a vida de antigamente não pode mais ser desfrutada. “Nos fins de semana, eu ia para Recife, Porto Alegre. Hoje não faço mais isso”, compara.

Esse autêntico brasileiro tem três filhos e é casado, mas tornou-se viúvo da antiga maior companhia aérea brasileira quando o governo do presidente Lula decidiu fechá-la. Hoje vive no exílio de sua própria vida, faz as contas de uma proporção inversa: poderia receber sete mil reais, mas ganha apenas R$ 1.500. Os remédios aumentaram (gasta aproximadamente 300 reais por mês com eles) e a qualidade de vida diminuiu. “Eu sou pura tristeza”, diz.

O céu das viagens que Amaury fazia como comissário da Varig é muito menor do que a sua esperança. Por isso ele luta, protesta, se veste de palhaço e de morte, viaja à Brasília para convencer senadores a ajudá-lo a retomar o dinheiro que perdeu. Recentemente, descobriu outro avião: a internet. Aprendeu que pode voar sem sair de casa, basta apenas apertar o botão de ligar o computador e postar seus textos. A única coisa que Amaury não entende é o por quê de ter perdido a pensão especial pela qual contribuiu durante 30 anos. Essa é a sua injustiça e também a sua busca: quer viver melhor, pois trabalhou para isso.

Em uma pasta de plástico, Amaury Guedes guarda as suas histórias. Orgulha-se de ter fotos e perfis sobre si publicados nos principais jornais e revistas do Brasil. São folhas e Folhas que contam a sua saga em busca de seus direitos. Amaury não desiste! É isso o que o torna tão singular, mas tão parecidos com os milhões e milhões de brasileiros que, como ele, lutam a cada dia por seu pedaço de pão (e de vida).

Não estamos em 1984 de George Orwell, mas Amaury Guedes é vítima de uma grande máquina de esquecimento coletivo. Ele e todos nós enfrentamos a gigante e impiedosa indústria que faz com que nós, jovens de idade, esqueçamos os rostos de quem ajudou na construção do Brasil. Eles, os aposentados, colocaram as peças, fizeram o motor, testaram e, no caso de Amaury, colocaram o país para voar. Cabe a nós manter o avião sem turbulências e não esquecer daqueles que ficaram no chão.

Se Amaury encontrasse a Morte novamente, com certeza ela não iria querer o seu uniforme de volta.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

As tardes de outubro

"Eu queria te explicar e tal, mas você sabe como são difíceis essas coisas para mim. Eu floreio as palavras, torno gigantes os verbos e acabo tingindo o céu do roxo e as situações de branco, para que elas fiquem mais claras. Mas não: ninguém entende o que digo ou, simplesmente, entendem o que desejam entender. O que acaba dando no mesmo. Então, vou tentar ser sucinto: eu te conheci naquela tarde de outubro, lembra? Aquela que chovia igual choveu em Macondo...Parecia mais uma tarde de janeiro, mas era de outubro mesmo, lembro de você comentando algo do tipo. Isso daria um poema, eu disse, se eu fosse poeta eu faria um poema sobre tardes de outubro que parecem de janeiro. Você pode fazer um poema com isso, mesmo não sendo poeta, você disse. Posso nada, eu disse. Pode sim, é só tentar. Então tentei, mas saiu uma merda, como tudo o que venho tentando fazer para te reconquistar. Eu sei que nesse momento você deve estar pensado: “claro, as coisas não acontecem do jeito que a gente quer, nem os poetas conseguem isso”. Mas eu te digo que sim, os poetas conseguem tudo que desejam, eles podem transformar uma vírgula em algo mais importante ou fazer de uma anotação qualquer uma linda carta de amor. Eu já te disse uma vez que se eu fosse um poeta, provavelmente eu ia pegar algumas palavras apenas para mim e depois transformá-las em outras. Eu inverteria a ordem do amor para torná-lo melhor, menos humano. Olha, eu até acharia lindo se, com o passar dos anos e das palavras, eu me tornasse um ex-poeta, mas nem nisso eu sou bom, por enquanto continuo apenas como o seu ex-namorado.Utilizei essa última frase apenas para te impressionar mesmo. Enfim, acho melhor eu parar por aqui mesmo, né? Disse que iria tentar explicar algumas coisas, mas não consegui novamente. Sou uma grande merda na sola do seu tênis!


Ainda desejo reencontrar aquele seu dom de transformar as minhas tardes.
Cuide-se".

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A normalidade segundo minha mãe

“O que é ser normal, mãe?”, perguntou este que vos fala, lá pelos anos do FHC, mais ou menos quando a Xuxa ainda fazia sucesso. “Ser normal é se encaixar nas regras que sociedade estabeleceu”, respondeu a minha mãe. Ótimo, pensei, então é muito fácil ser normal, ser anormal que é difícil.

Pessoas normais vão à padaria comprar pão, pessoas normais comem bacalhau com batata na Páscoa, compram bandeiras do Brasil em época de Copa do Mundo e, mais do que tudo, pessoas normais, quando saem do caixa eletrônico, olham com cara de surpresa para folhinha do extrato bancário.

Pessoas anormais, pelo contrário, fazem tudo fora das normas da sociedade: não suportam comer pé de galinha; odeiam feijoada, bucho e afins, não ligam a mínima para o dinheiro no banco, odeiam ir ao banheiro fora de casa e ficam intimidados quando alguém lhes chama para dançar.

Quando era mais novo, eu não era normal: não sei por que, mas eu tinha vergonha de comprar pão, eu odiava bacalhau com batata, afinal, era impossível distinguir o que era bacalhau e o que era batata e, acima de tudo, eu não sabia como alguém tirava um extrato bancário do caixa eletrônico, principalmente porque eu não fazia a menor idéia do que era um extrato bancário. Hoje, como 20 anos, eu já faço tudo isso, inclusive, olho com cara de surpresa para a folhinha.

***
Na verdade, eu só gostaria de agradecer a providencial ajuda da atendente do Banco Real da Vila Mariana, que hoje, mais uma vez, salvou a minha vida, ou melhor, salvou o meu extrato. Não sei bem o nome dela, não sei se é casada nem se está infeliz em seu emprego; talvez ela seja até estagiária, o que, evidentemente, sugere a sua infelicidade. Mas enfim, é uma garota de ouro, uma garota capaz de me fazer largar a casa, a família, o cachorro e o jornalismo apenas para levar uma vida de bancário, saca? Com essas greves de dois meses ou esses uniformes verdes com um “Posso ajudar?” escrito nas costas.

***

Vocês já repararam que eu ando usando muito o *** ? Sei lá, eu vi isso em algum lugar e achei demais. Coisa de anormal.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Carta a um amigo de infância

Estou atrasado. O Dia do Amigo aconteceu há três dias e eu não escrevi nada sobre o tema. Aliás, só fiquei sabendo da data hoje, quando li o blog da Tati, que tenho orgulho de dizer que é minha amiga. Bom, então, como estou meio sem criatividade, resolvi postar um texto antigo. Dei apenas uma atualizada e pronto!
***

As coisas melhoraram por aqui. Mudei para uma casa maior, com grandes janelas e um quintal respeitável. Geladeira, fogão, televisão, aparelho de som, sofá: todos novinhos. Chique, não? Até uma cachorra eu tive, “Princesa” era o nome dela, pena que desapareceu de repente, coitada. Agora tenho o “Fedô”, um vira-lata, que diariamente me culpa por ter escolhido esse nome para ele.

Minha mãe continua bem, a mesma mandona de sempre. Mas mãe é mãe, você sabe, né? Meu pai, depois de alguns anos, resolveu aparecer. Foi na véspera da final da Copa de 2002. Bom, fiquei confuso, mas acabei me acostumando. Apesar que, confesso, nossa relação ainda é um pouco fria. Pai é pai, você sabe, né? Mas com o tempo isso passa. Espero ou não espero, não sei bem ainda.

Ah, depois que acabei a escola entrei para a faculdade. Faço jornalismo, quer dizer, tento fazer. É o que eu sempre quis, você lembra? Fizemos até um jornalzinho na escola; a primeira notícia que escrevi (lembro como se fosse hoje): “Morreu um boi na estrada". O boi e a estrada eram inventados, claro. Hoje aprendi que bons jornalistas não inventam notícias.Atualmente escrevo textos - que ainda não os chamo de crônicas, mas que os são, na verdade – para dois blogs. Não parecem aquelas velhas redações que escrevíamos a mando da professora Suely. Lembro de uma – e ainda a tenho aqui em casa – sobre alienígenas. A professora gostou muito. Hoje tento contar passagens da minha vida e, infelizmente, não incluem alienígenas.

Parei de jogar futebol. Cansei. Até porque minhas pernas não agüentam mais, apesar dos meus 20 anos. Até que eu era razoável, né? Jogava no ataque, você de goleiro. Até ganhamos alguns campeonatos na escola, lembra? Teve até troféu. Tudo bem que ele, o troféu, foi comprado por nós mesmos, já que organizávamos os campeonatos. Que honra ganhar o próprio troféu.

Lembra do Ivan? Ele não gostava muito da gente. Agora ele é um dos meus melhores amigos, juntamente com o Renato, que nós, brincalhões, chamávamos de “gordo”. Pois é, o gordinho emagreceu, cresceu, estudou e agora trabalha no Aeroporto. O Ivan e o Renato viraram roqueiros: não saem de shows cidade afora.

A vida amorosa está meio enrolada. Você sabe como sempre tive dificuldade em manter uma garota na cabeça por vez. Hoje, consigo gostar de várias ao mesmo tempo. Saudade de quando eu “amava” apenas a Bruna, ou a Jéssica, ou a Talita. Não sei se você recorda, no meu primeiro – e horrível – beijo, você estava sentado no banco de atrás daquele ônibus, (naquela excursão) com outra garota. Talvez, no dia, você tenha dado seu primeiro beijo também. Nunca conversamos sobre isso.

Andei vasculhando as gavetas da memória e lembrei do dia em que resolvemos não ir com o pessoal da escola para uma outra excursão: fomos de ônibus público mesmo. Quanta ingenuidade. Nos perdemos e deu a maior confusão. Acho que hoje, com 20 anos, já consigo andar de condução sem nenhum problema.

Bom, dito tudo isso, antes que eu esqueça, é melhor contar as notícias mais recentes da velha turma: O Roney casou; o Paulo (Cidão) agora é pai; o Ivan tá namorando; a Camila (lembra dela?) começou a faculdade; a Suellen faz curso técnico; o Carlos continua sendo o são-paulino mais fanático; o Filipe é o mais palmeirense; o Éderson repetiu o ano na escola; o Fernando virou crente; o Luciano tá trabalhando; o Renato também; o Marcos tem uma banda. Não tenho notícias da Agnes, Heleni, Carla, Jéssica, Fernandão; o Michel morreu.

Sem mais,
um grande abraço do seu amigo de infância, e que já sabe andar de ônibus sozinho,
Leandro Machado.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Que me desculpem as americanas, mas as brasileiras são fundamentais

Olá, marujos. Tudo bem?
Então, os textos abaixo foram escritos como exercícios de um curso aí que estou fazendo. O primeiro é uma associação de duas palavras que, aparentemente, não têm nada a ver: Obama e Chapeuzinho Vermelho. E o segundo texto foi feito com a técnica da 'escrita automática', que consiste, mais ou menos, em escrever o que vier à cabeça, sem se preocupar com gramática, ortografia, sintaxe etc.


– Olá, presidente.
– Olá, chapeuzinho. Tudo bem?
– Tudo ótimo. Fiquei sabendo que o senhor gostou de uma brasileira.
– Não, não. Eu estava apenas analisando os atributos dela. Nós precisamos tomar medidas protecionistas contra essas brasileiras.
– Por que, presidente?
– Elas andam invadindo a América, não reparou? Começou com a Carmen, depois essa tal de Gisele. Imagine se a Maysa toma o seu lugar, chapeuzinho?
– Deus me livre! Prefiro mudar de nome.
– Ah! Só não mude para Chapeuzinho Azul, senão a Dilma acha que é Tucano e acaba se transformando em lobo para te comer.

***

Eu não sei o que dizer aqui. Estou apenas pensando na garota ao lado. Eu encontrei a Bruna de Rádio e TV ontem, ela me deu um abraço forte. Eu disse oi Bruna, e ela disse oi Leandro o que você faz por aqui, eu trabalho por aqui, legal, e você, vou comprar um perfume na Fator 5. Eu pensei que devia ser pro namorado dela. A Bruna é linda mesmo, eu me casaria com ela. Eu lembrei de quando ela era solteira e eu tinha acabado o meu namoro. Me liga no número 98565659894 ela disse. Sim, eu ligo, mas eu não liguei porque eu ainda gostava da Carla.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

"I (don't) want you back"

(Toca o telefone)
– Alô.
– Alô, Leandro. É a sua mãe.
– Oi, mãe.
– Adivinha quem morreu?
– Deus?
– Não, idiota. Foi o Michael Jackson.
– Olha, quase acertei então.
– Ele não é Deus, ele é apenas o Rei.
– Um dos reis, né? O Roberto Carlos e o Pelé ainda estão aí para nos atormentar. Sem contar as rainhas: Madonna, Xuxa...

(Alguns minutos depois, no trabalho)
– Gente, o Michael Jackson morreu!
– Mentira.
– Como mentira? O coração dele parou, morreu, deu no rádio, na televisão, na internet.
– E você acredita nessas coisas? É tudo encenação, você acha que essas pessoas morrem? Daqui a pouco alguém vai gritar: “Michael Jackson não morreu!”, igual o Elvis. Depois isso vira frase de camiseta, tema de documentários, religião...

(Depois de ler uma entrevista na Folha Online)
– Você viu o que Claudia Leitte disse a respeito da morte dele?
– A Claudia Leitte existe de verdade? Pensei que ela fosse algum personagem criado no Photoshop.
– Pois é, existe e tem opinião. Aliás, sobre a morte todos têm opinião. A morte faz parte da vida. Para tudo dá-se um jeito, menos para a morte etc.
– É tudo uma grande merda. Um puro espetáculo, não é? Não deixam nem o cara morrer em paz...o que a Claudia Leitte tem a ver com isso? O que nós, brasileiros, temos a ver com isso?
***

Não sei se já aconteceu com você. Hoje, no ônibus, eu tive uma estranha sensação: como se eu encontrasse significados ocultos em todas as coisas e ações que eu via: as pessoas preferindo o banco vazio a sentar ao lado de alguém, a solidão dos paulistanos em dias de chuva e frio, o salão de cabeleireiro chamado “Novo Estylo”, o Leitte da Claudia Leitte...Tudo fazia parte de uma grande engrenagem com símbolos a serem descobertos. Tudo dizia algo, tudo comunicava, tudo era política.

domingo, 14 de junho de 2009

No mundo ideal não existiriam títulos

Num mundo ideal, as coisas funcionariam. Os computadores, quando nervosos, não deixariam os seus donos na mão; os telefones nunca, absolutamente nunca, ficariam mudos, nem por falha mecânica, nem por erro humano, afinal, no mundo ideal, não haveria mecânica, muito menos humanos.

No mundo ideal, as janelas dariam para paisagens bonitas, dessas de calendário, sabe, dessas que nos fazem pensar em mudar de profissão: virar fotógrafo, viajar para o Hawaí e casar com uma linda norueguesa. No mundo ideal existiriam lindas norueguesas aqui em São Paulo – e elas andariam por aí, nos ônibus, no metrô, no trem. Mas isso seria realmente difícil, porque no mundo ideal, não existiria ônibus, metrô e trem, aliás, São Paulo também não existiria no mundo ideal.

No mundo ideal não existiria dor de cabeça nem dor de estômago nem cólica feminina nem dor de dente nem náuseas nem dor de ouvido nem hérnias de disco nem dor nas costas nem cálculos renais nem dor no dedinho do pé nem dor existencial nem depressão nem dor de amor. No mundo ideal não haveria amor no mundo ideal não haveria amor no mundo ideal não haveria amor.

No mundo ideal não haveria frases sem vírgula. A vírgula seria uma pausa para pensar. Vírgula não sei o que dizer vírgula. Eu quero vírgula parar de pensar vírgula besteira porque vírgula não vírgula agüento mais vírgula.

No lugar dos shoppings haveria uma montanha de livros, lá no mundo ideal. As pessoas gostariam de ler e, acima de tudo, ninguém acharia estranho você escolher uma leitura estranha, do tipo Mate-me, por favor ou Trópico de câncer. No mundo ideal nada seria estranho.

Ah, no mundo ideal nós poderíamos escrever o que quiséssemos, cara. Desligar a tela e deixar fluir, fruir. Ninguém se importaria em se encaixar nessa porcaria de regra de ser o certinho. Para o inferno com tudo isso. No mundo ideal, sim, no mundo ideal, toda a angústia de viver sairia de nós em forma de versos: lindos e horríveis versos.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Segundas necessidades

Não sei: talvez seja coincidência dos astros, talvez seja Deus ou o Filho Dele que me coloca sempre no lugar certo na hora errada: é incrível a minha tendência para presenciar as cenas mais absurdas ou constrangedoras às pessoas que atuam nelas ou mesmo para mim, mero espectador. É a tal da vergonha alheira, entende? Quando você sente tanta vergonha pelo outro que chega a ficar rubro.

Nessa semana, por exemplo, estava eu no banheiro da Reserva Cultural, cinema aqui de São Paulo, quando, sem mais nem menos, um homem grande, forte e careca apareceu na região conhecida como Zona do Mictório e deu um apertão nos fundilhos (a bunda, para quem não sabe) de um outro rapaz que ali estava. Pois bem, o cara da bunda virou-se e, acreditem, tirou o “rapaz” do outro rapaz de dentro da calça e começou a masturbá-lo. Sim, um masturbando o outro e o outro masturbando o um. Nenhum preconceito, longe de mim, mas foi estranho, confesso.

No dia seguinte, este que vos fala caminhava tranqüilamente pela Rua Bresser quando um tal mendigo retirou por inteiro as suas vestimentas e começou a lavar-se ali mesmo, na calçada. Detalhe: ele havia acabado de fazer a segunda necessidade, portanto, o cheiro não era dos mais doces.

Não é que eu não goste de presenciar cenas como essas, nada contra, juro. A questão é: por que eu nunca vejo cenas bonitas? Casais dando o primeiro beijo, pombas brancas da paz voando pelos ares da vida, um “eu te amo” triste e alegre ao mesmo tempo, por exemplo? Não, isso eu não vejo. Imagino que o problema seja meu mesmo: são olhos treinados para sempre ver o negativo, saca?

sábado, 25 de abril de 2009

O Brasil tem jeito

Nego Leléu, célebre personagem do romance Viva o povo brasileiro, do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, talvez seja, na literatura, um dos maiores exemplos do que popularmente chamamos de “jeitinho brasileiro”. Por meio de formas especiais de resolução de problemas (inclui-se aí presentes a fiscais do comércio, bajulação a possíveis inimigos e planos mirabolantes para escapar dos impostos) Nego Leléu, recém alforriado, sobe na vida, ganha dinheiro e admiração dos políticos da época em que se passa a história, em meados do século XIX.

Poucas são as obras do universo acadêmico que destrincham-se sobre o “jeitinho”. Por ser um tema tão intrínseco no cotidiano brasileiro, o “jeitinho” merece, sim, ser tratado com melhor jeito, com o perdão do trocadilho infantil. Mais recentemente, apenas o livro Jeitinho brasileiro, a arte de ser mais igual que os outros (Editora Campus), da pesquisadora carioca Lívia Barbosa, faz uma longa abordagem do assunto.

Os termos “jeitinho” e “corrupção” são claramente diferenciados segundo o levantamento realizado pela pesquisadora com a população. “Corrupção é para os políticos”. Jeitinho vem das ruas, pode acontecer com todo mundo, é um favorzinho. “Hoje eu preciso, amanhã será você”.

Enfim, o que é esse tal jeitinho brasileiro? Qual a sua origem? De onde vem essa maneira tão singular de resolver os problemas e situações embaraçosas? Segundo Lívia Barbosa, o jeitinho vem de três questões básicas: a pouca distinção que o brasileiro faz do que é público e do que é privado; a exagerada burocracia no país e a grande diferença entre as leis e o que é aplicado verdadeiramente no cotidiano, nas ruas.

A visão do brasileiro sobre o público e o privado, como citado anteriormente, contribui para a propagação do jeitinho. O individual está, muitas vezes, acima do social, acarretando, infelizmente, na utilização de recursos públicos para benefício próprio ou privado, como recentemente ficou claro com o escândalo da compra de passagens aéreas pelos parlamentares com o dinheiro do contribuinte. Mas não só o político se aproveita dessa relação: também os funcionários públicos, os fiscais de trânsito, os policiais, jornalistas que utilizam o jornal (espaço público!) para divulgar brigas pessoais e picuinhas sem o menor interesse social.

Historicamente, podemos identificar o processo colonizador como um dos possíveis responsáveis pelo jeitinho: tanto nos fala Gilberto Freyre, em Casa-Grande e Senzala, da confusa administração portuguesa no Brasil, com suas numerosas leis, alvarás, estatutos e cartas do rei. Isso tudo gerou confusão entre os colonos, que geralmente não conheciam a “lei do dia”, colaborando, enfim, para diferença cabal entre o que está escrito e o que é aplicado na prática. Freyre nos conta também das leis próprias de cada engenho, onde o Senhor era o rei, ele ditava as regras, as leis, os castigos, entre outras coisas.

Também a burocracia, tão difamada, constrói barreiras instransponíveis para o desenvolvimento social tupiniquim. A título de exemplo, segundo pesquisa realizada em 2007 pelo Banco Mundial, para se abrir um negócio no Brasil são necessários, em média, 152 dias. Os números mostram também que apenas o Chade, na África, ultrapassa o Brasil em número de etapas necessárias para a abertura de uma empresa. Pontos como esses indicam o porquê de tantos brasileiros partirem para informalidade, vendendo produtos falsificados ou contrabandeados.

Outro aspecto importante na análise social do jeitinho brasileiro é a preferência nacional pelo malandro: aquele sujeito que tudo resolve, que tem jeito para todas as situações, habilidoso com as palavras e no vestir, galanteador, sedutor. Um exemplo disso pode ser visto no esporte bretão: no futebol, o jogador mais habilidoso, aquele que resolve o jogo numa jogada bonita, inventiva, é sempre o preferido. O pragmático, eficiente, previsível e regular, é descartado, muitas vezes considerado “brucutu”. Por isso Kaká, Diego ou Raí são preteridos ao Romário, ao Ronaldinho Gaúcho, ao Robinho.

Diferentemente dos países orientais, como o Japão, onde preza-se muito a previsibilidade, o brasileiro tem por tradição ser criativo, se ajustar às necessidades, ter a famosa ginga. E isso não é ruim, pelo contrário, é importante. A questão principal é não transformar toda essa capacidade em algo ruim, depredador da ética, pois no Brasil, infelizmente, com todo esse jeito, provamos ser verdadeira teoria mais importante do século passado: aqui tudo é relativo.

sábado, 18 de abril de 2009

Tudo é relativo!

Os sonhos se encontram. Sim, cada vez que dormimos, os sonhos nos roubam a imagem física e fogem de nossas cabeças, levantando vôo. Voam tão longe, tão longe, que ultrapassam os limites das casas, passam desesperados pela fiação, resvalam nas ondas das telecomunicações e, às vezes, batem em outros sonhos.

Certa vez um garoto e uma garota se encontraram em sonho. Os sonhos dos dois se chocaram mais ou menos perto do trópico de câncer, na esquina da quinta estrela a leste, onde, dizem, morou por alguns anos o Divino. Foi amor no primeiro sonho. Amor? Mais que amor! Foi algo extraordinário, acima da compreensão de qualquer um, algo eterno, parece que criado quando ainda não havia nada, só poeira cósmica. Então o garoto e a garota decidiram se encontrar fora dos sonhos.

Mas às nove horas do dia dezenove de fevereiro do ano da graça de dois mil e nove, o garoto e a garota, amantes em sonho e fustigados pelo ardor incessante em seus respectivos corações, chegaram a constatação mais esclarecedora que se poderia encontrar desde a teoria da relatividade: não há nada, nadinha de nada, merreca de nada, nada de coisa nenhuma, nada, absolutamente nada mais difícil que encontrar o seu amor.

– Sim – pensou o garoto – considerando que o planeta não passa de uma pequena ervilha na imensidão do universo, que a história da humanidade começou nos últimos momentos do segundo tempo e que, por fim, tudo foi criado por Deus para realmente não dar certo, então, poderia ser perfeitamente cabível se ela, a garota dos meus sonhos, aparecesse aqui e agora.

Mas não, ela não apareceu e eles não se conheceram. Tudo aconteceu assim: o relógio quebrou, o chuveiro queimou, na padaria o pão acabou, o café amargou, a mãe deu bronca, o pai não a levou de carro, o ônibus atrasou e o sinal abriu na hora errada. Tudo isso fez com que garota perdesse a oportunidade de tropeçar na calçada de uma determinada rua e de ser ajudada a se levantar pelo garoto dos seus sonhos, passante por acaso.

– Não – pensou a garota – as coisas realmente não são planejadas para acontecer da maneira correta. Tudo é um grande e terrível acaso, acaso este que quando acontece cria um buraco negro que chupa todos os ingredientes da vida e os transforma em amor: amor salgado, amor doce, amor azedo, amor amargo, amor com gosto de sorvete, amor de gelatina, amor de morango e amor de chocolate.

Mesmo assim nada dava certo. O garoto e a garota não se encontraram pessoalmente, mas continuaram se vendo em sonho: combinaram encontros, cinema, peças de teatro, pipoca no parque, presentes exóticos, lágrimas de alegrias, a forma como segurariam a mão do outro (a sua esquerda e a minha direita); combinaram também as brigas por ciúme, as brigas por besteira, as brigas sem motivo e as brigas que causam outras brigas; marcaram os desencontros causais, os pedidos de tempo, a separação e a volta com olhos marejados.

Finalmente, a garota e o garoto perceberam que as coisas do amor precisam ser planejadas com antecedência; o acaso não funcionou, tudo ainda não passava de um lindo sonho. E em sonho, o amor não é o mesmo. Era preciso dar um basta e partir para a realidade. Então, a garota resolveu elaborar uma fórmula quântica-físico-matemática que lhe revelaria, se resolvida, onde estaria o seu amor. A fórmula dizia o seguinte:

– A aritmética do amor se resume a uma equação de mais ou menos: ache a raiz quadrada do positivo, depois subtraia pelo negativo, aumente o positivo duas vezes, divida o negativo pelo positivo, multiplique por três o positivo e eleve à quinta potência o negativo. O resultado será mais ou menos o correto.

O garoto, por sua vez, descobriu um outro jeito de encontrar seu amor em sonho: escrever poemas cifrados em todas as notas de dinheiro para que a garota visse e o encontrasse em determinado lugar.

– As palavras são seres ruins – pensou o garoto – elas brigam comigo e eu discuto com elas sem parar. Escrever é uma tortura, uma batalha sem fim. Não há rima, não há ritmo, não há nada em toda a sua inexistência. Um nada que não passa de um grande depósito de caracteres. As palavras prestam tanto quanto os homens.

Mas, infelizmente (ou felizmente), a fórmula falhou, os poemas no dinheiro também, tudo falhou. O amor falhou. E os dois desistiram do desejo de se encontrarem realmente. Às vezes, os sonhos se chocam novamente, mais ou menos perto do trópico de câncer, na esquina da quinta estrela a leste, onde, dizem, morou por alguns anos o Divino. Mas ambos sabem, mais do que nunca, que agora é esquecer o outro, pois tudo, tudo, mais que tudo, tudinho de tudo, absolutamente tudo, tudo foi criado para não dar certo.

sábado, 4 de abril de 2009

O Bar Cansado

Eu sei, eu sei: bar é assunto recorrente neste blog vil. E ninguém precisa me xingar por voltar ao tema. Sou apenas um carinha ali sentado no canto, apreciando alguma cena inusitada ou, para variar, pensando em algum lírio oriental perdido no ocidente. São coisas da vida.

Mas eis que, ontem, conversando com o Vinícius, nobre e destemido calouro de jornalismo, ele solta a seguinte frase filosófica:
– Os bares daqui da São Judas são ruins, são tipo bar cansado!

Pronto: não poderia o ilustre colega classificar melhor a tão famosa modalidade de bares sem açúcar que teimam em existir por aí. Ou seja, aqueles bares que não empolgam nem o maior dos bêbados. É um bar sem o calor dos bons, um bar cinza, sombrio, solitário, sem identidade! Não merecedor da sublime e lubrificante alcunha de bar. É um bar-menor, como diria o poeta.

O dono do bar cansado geralmente tem nome aristocrático: Lúcio Rodolfo, ou Geraldo Cristão, ou Perilo Ambrósio. Nada de apelidos proletários, do tipo Betão, Seu Zé, Peruca, Careca, enfim, nomes comuns de dono de bar legal. Os garçons, ah, esses são os piores no bar cansado: não têm a ginga dos garçons de bar legal, que conseguem atender convincentemente cinco mesas ao mesmo tempo e ainda conversar sobre o último gol do Ronaldo com dois corintianos, dois são-paulinos, um palmeirense e um velhinho santista.

Freqüenta o bar cansado aquele cidadão estressado, tristonho, depressivo, impreciso, que come creme de milho e acha maravilhoso, mais ou menos um vilão de novela, saca? Sujeito sem jeito. Que não sabe beber como se deve, pois prefere ser social. Não ficam bêbados nunca, não dão vexame, não curtem a fossa do fora, não cantam o último sucesso da Xuxa.

As mulheres do bar cansado são diferentes também: não apaixonam ninguém, olham sempre para baixo, não vão ao banheiro na hora certa, não desdenham do cara bonitão, não dormem em cima da mesa. Nada disso. A mulher do bar cansado é um dos cinco tipos de mulheres inclassificáveis que tanto me fala Ivan, o Terrível.

Ah, para terminar, o bar cansado nunca, absolutamente nunca, consegue fazer com que o seu freqüentador, tão bêbado, diga:

– Seu Zé, me vê uma cerveja, pois eu quero comemorar a última vez que bebo!

segunda-feira, 23 de março de 2009

Subterranean Homesick Drunk

Então ele a viu ali sentada no canto do bar, encantando sem querer, mas querendo, sim, e sem saber. Paixão é relance: um lance, uma fingida fugida ao banheiro, um sorriso com graça, um tropeço sem preço, ah, um gole de cerveja, um olhar marcado. Num momento estão apaixonados! Paixão de bar é eterna sem durar. Acaba sem começar. Paixão de bar é como mergulhar numa piscina gelada no frio, como falar inglês sem saber. What is your name, girl? Nunca tem nome quem está no bar. Quem está no bar só tem rosto e coração, sem senha, sem a louca histeria de ser...normal! Sou aquilo que bebo. Bebo, logo, existo. Altera o tempo quem está no bar: os minutos viram horas, as horas, segundos. E os segundos não mais do que realmente são, segundos são segundos. No bar, o amor é lindo! Nada mais lindo que amar no bar, beijar no bar, transar no bar. Transa no bar é com os olhos. Olhos que procuram desesperadamente outros olhos. Desesperados para pôr fim nessa histeria de ser...normal. Ninguém quer ser normal no bar, mesmo quem não bebe...e não há nada, absolutamente nada melhor que ter uma paixão de bar.

terça-feira, 17 de março de 2009

A origem das palavras (parte 1)

Dando seguimento a minha difícil tarefa de descobrir a origem histórica de todas as palavras (sem exceção) da Língua Portuguesa. Segue abaixo três recentes exemplos dessa minha incansável pesquisa.

Felicidade: A palavra surgiu na Itália, no século IV. Na verdade, o termo foi criado no antigo Bar do Felix, que ficava na esquina que separava (hoje não separa mais) as cidades de Roma e Veneza. O bar, muito famoso, reunia grandes artistas, escritores e pintores da época. Foi em suas mesas que nasceu o renascimento (há algo de errado nessa frase). Diz a lenda que certa vez um bêbado cortejou uma dama com a seguinte frase: “Mulher, se você casar comigo, eu descubro a América pra ti.”

Pinga: do Grego Arcaico, Pingus. Certa vez, Platão estava em seu quarto transcrevendo um de seus diálogos com um tal de Ari, quando, de repente, percebeu que pingos de água caiam em cima de sua cabeça. “Que porra é essa?”, perguntou Platão. Na época, não existia a palavra goteira. O filósofo resolveu experimentar o sabor do pingo. Gostou.

Evacuar: do Latim contemporâneo, Evacuares. Este termo foi inspirado no deus do vento Vácuo. Segundo a mitologia portuguesa, Vácuo, entediado, resolveu engolir todo o ar do universo de uma só vez. De tanto comer vento, o deus teve uma terrível indigestão, precisando ir imediatamente ao banheiro. Evacuou o Vácuo.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Ruminações

Então, furou aquele papo de postar toda semana. Não é que eu não quero, pelo contrário: passo horas do meu dia imaginando textos, mas realmente me falta inspiração, além de outras coisas mais. E também, é claro, está mais difícil pensar com tantos trabalhos, pautas, matérias e notas peladas para a faculdade. Mas tudo bem. A vida segue na linha...

***

Aliás, nas últimas semanas, uma certa pessoa me fez pensar realmente na utilidade de ser jornalista. O incrível é que eu nunca questionei a minha escolha. Nunca. É óbvio que eu não vou sair correndo da sala, gritando: “Sai da frente, agora eu vou ser engenheiro químico”. Não. Mas aquela coisa de “aprender para ser igual” foi foda demais para a minha cabeça.


***

Os textos abaixo são passagens do livro Trópico de Câncer, do Henry Miller.



“– Mas o que você quer das mulheres, então? – pergunto.
Ele esfrega as mãos, solta o lábio inferior. Parece completamente frustrado. Quando consegue gaguejar algumas frases soltas é com a convicção de que atrás das palavras há uma enorme inutilidade.
– Quero conseguir me entregar a uma mulher – declara – Quero que ela me tire de dentro de mim Para isso, precisa ser melhor do que eu, precisa ter cabeça...Tem que me convencer que eu preciso dela, que não posso viver sem ela. Você acha uma mulher dessas pra mim? Se fizer isso, eu lhe dou o meu emprego. Não ia me incomodar mais com o que ia acontecer, não ia precisar de emprego nem de amigos, livros, de nada. Se ela pudesse me convencer de que existe algo mais importante no mundo do que eu. Porra, eu me odeio!”


“[...]
– Você acha que gosto de mim. Isso mostra como sabe pouco a meu respeito. Sei que sou um grande sujeito, mas não teria esses problemas se não houvesse alguma coisa em mim. O que acaba comigo é não conseguir me expressar. As pessoas acham que sou um caçador de putas. Esses intelectuais que passam o dia inteiro sentado no terraço ruminando psicologia são superficiais. Essa foi boa, hein, ruminando psicologia? Anota pra mim. Vou usar na minha coluna na semana que vem.”

***

Agora chega, vou dormir. Estou muito chato hoje, quase ruminando psicologia!

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Mais do mesmo

Sim, sim. Se você é um dos poucos leitores que me acompanham há alguns anos, deve saber que os textos abaixo já foram publicados e que são tão velhos que caminham de andador por aí. Mas, como meu antigo Fotolog finalmente passou pela fila do INSS e foi agraciado com o benefício da aposentadoria por invalidez, eu resolvi postá-los aqui no Verbâmidas. O leitor mais atento vai reparar que desde criancinha a minha predileção por assuntos de cozinha, mesa e banho está presente: esta saga continuará aqui no blog.

Felicidades.

A moela e eu

Há alguns dias, este pobre aprendiz de jornalista e cronista escreveu sobre as mazelas da beterraba e sobre as desventuras do simpático milho. Eis que volto – com muito apetite – a falar de alimentos neste espaço vil.

Como você viu no texto anterior, sou um chato com essas coisas de comida. Eu sei que pobre – eu sou um – come de tudo, mas, o tudo tem um limite. Esta semana, fui apresentado à corajosa moela. Sim, é isso o que você ouviu. Prazer, moela!

– O que tem pra comer, mãe?
– Moela.

Eu, desculpe, já não gostei do nome. Eu não como uma coisa chamada moela. Com um nome desses não pode ser boa. Me lembrou algo mole, revestido por alguma membrana suja misturada com sangue. Sei lá, não apreciei de cara.

Resisti ao preconceito e fui conhecer a moela pessoalmente. Não foi um encontro muito agradável; olhei, avaliei as condições, senti o cheiro; e foi aí que o desentendimento se tornou maior: Moela tem cheiro de fígado.

Não só o cheiro, mas a aparência, o aspecto infeliz, maltratado. Moela é uma prima pobre do fígado. E eu odeio fígado com todas as forças. A chance de eu comê-lo é a mesma de o Ronaldinho Gaúcho virar gandula da Ponte Preta.

Pode me chamar de baitola, mas não como nada que seja um órgão de animal. Nada de coração, fígado, rim, pulmão, cérebro etc. Não por ideologia naturalista, mas por puro nojo mesmo.

– De onde vem a moela, mãe?
– Da galinha.

Pronto. Agora é que eu não coloco aquilo na boca mesmo. Como assim da galinha? Em que parte daquele corpinho sai a barrenta moela? Logo imaginei que fosse perto de onde sai o ovo, mas, com a ajuda do dicionário, a idéia logo evaporou.

Moela, s. f.

parte muscular do tubo digestivo que surge nas aves e em vários invertebrados imediatamente após o papo, que é por vezes revestida com estruturas semelhantes a dentes, podendo conter pequenas pedras no seu interior, e que executa funções de trituração.


A moela é um músculo! Não um músculo qualquer, mas um do tubo digestivo, logo, passa comida ali. Ou seja, indiretamente, você, que gosta de moela, está comendo o que a galinha saboreou no seu último almoço. Fora a parte “estruturas semelhantes a dentes, podendo conter pedras”. Dentes, como assim? Que pedras? Pelo amor de Deus, parece um monstro.

– Mãe, frita um hambúrguer, por favor.
– Tá, meu filho.

Beterraba tem gosto de milho

Desculpe a ignorância desde já, mas beterraba tem gosto de milho, sim!

Eu sei que algum de vocês vai dizer não, e que a beterraba é uma planta herbácea da família das Quenopodiáceas, e o nome é derivado do substantivo francês “betterav”. Outros, mais exaltados, dirão, a respeito do milho: “É um dos alimentos mais nutritivos que existem, contendo quase todos os aminoácidos conhecidos, sendo exceções à lisina e o triptofano”.

Mas continuo com a minha opinião, não importa o que digam.

Certa vez, a mãe deste pobre rapaz, cozinheira de mão cheia, fez beterraba cozida para o almoço. A minha primeira reação foi:
– Tem gosto de milho!
– Tá louco? – gritou minha mãe, achando estranho.
– Sério.

O leitor já deve ter percebido que não sou um profundo comedor (?) de beterraba. Lembro das minhas experiências – não muito agradáveis – na merenda da escola.
– Tem o que hoje, tia? – perguntava eu, com a esperança de ser bife com batatas fritas.
– Peixe, salada de beterraba e suco de caju.
– Eca!

Vamos, agora, falar do outro personagem deste texto: o milho. Com exceção da pamonha, do cuscuz, do cereal, do suco, do sorvete, do cural, da broa e do pão, eu até gosto de milho. Cozido, com a espiga ainda, nossa, é ótimo. Só tem um porém:
– Tem gosto de beterraba, mãe – digo, comendo o tal milho na espiga.
– Tá doido? Você disse uma vez que beterraba tem gosto de milho. Agora isso? – reclama ela, nervosa.
– É isso mesmo.

Milho e beterraba são, meu caro leitor, sinônimos de sabor. Tem o mesmo significado em formas diferentes, digamos. Acontece com outros produtos alimentícios, é claro. Só para citar alguns exemplos que pesquisei entre os amigos:

- Cereja tem sabor de ameixa.
- Sorvete de mangaba tem gosto de jaca
- Chuchu lembra abobrinha.
- Pão de sal é igual cevada.
- Graviola parece banana misturada com maçã.
- Nhoque tem gosto de lasanha
- O sorvete “Sem Parar Black” tem gosto de recheio de “Chocolícia”.
- Açaí tem gosto de terra.
- Suco de abacaxi com menta parece acelga.
- Pêra tem gosto de água suja.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

A origem das verbâmidas

Ao longo da curta existência deste pobre blog, muita gente me questionou sobre a origem e o significado da palavra que lhe dá nome: Verbâmidas. As pessoas, absortas em seus pensamentos, tentaram de diversas maneiras encontrar a desconhecida etimologia do termo: “talvez verbâmidas venha do grego arcaico, ou do latim...quem sabe de algum dialeto africano, não sei”.

Eis que hoje, por pura falta de assunto, resolvi revelar a origem do tão misterioso termo. É claro que, para continuar o suspense, me reservo o direito de discorrer sobre três vertentes possíveis. Uma delas é a correta. Escolha a sua e seja feliz.


1) Verbâmida é, na verdade, uma planta encontrada exclusivamente nos campos do sul da Austrália, onde, no verão, a temperatura chega aos míseros 47 graus. A orquídea, de coloração verde-azulada, consegue reter água durante o período de clima seco, que dura aproximadamente nove meses e meio. Diz a lenda que o homem que beber a água armazenada na verbâmida ganha a capacidade da escrita na língua dos deuses aborígines.

2) “Verbâmida” é um termo cunhado pelo Papa Pio VI para designar os poetas eróticos de Roma, durante os anos da Santa Inquisição. “Enforque este verbâmida dos infernos!”, era uma frase corrente entre os membros do Clero. Mesmo perseguidos pela Igreja, os Verbâmidas eram considerados verdadeiros heróis, pois, com seus quentes poemas, elevavam a libido da população a níveis nunca antes atingidos. Surgiu, então, a Ordem Secreta dos Verbâmidas, que durante muitos anos produziu grandes quantidades de literatura erótica, influenciando gente do gabarito de Balzac e Henry Miller.

3) “Verbâmidas” não significa absolutamente nada. A palavra foi criada pelo compositor, escritor e dramaturgo Chico Buarque de Holanda para dar nome ao jornal produzido pelos estudantes do Colégio Santa Cruz, em São Paulo, lá pelos anos 50. No jornal, aliás, Chico publicou suas primeiras crônicas e poemas. Também atuou no periódico um dos maiores jornalistas brasileiros, Ricardo Kotscho, na época tão jovem quanto Chico Buarque.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Adeus, chocolate!

Contrariando as minhas convicções mais ou menos de esquerda, no qual não se conversa nunca sobre batatas fritas, chuveiros elétricos ou tênis da moda, eis que hoje, especialmente, dedicarei uma crônica inteirinha a um assunto com claro espírito burguês e capitalista: as bolachas de morango.

Não é segredo para ninguém que eu as odeio. E não é nenhum preconceito bobo: eu já provei diversas marcas, testei por tortuosos anos, tentei aceitar as suas diferenças em relação aos outros sabores; mas, sinto muito, não dá, senhorita Morango! Não consigo gostar de você de jeito algum.

O sabor é altamente enjoativo, causador de diversos problemas estomacais e psicológicos em pessoas menos treinadas, como eu. Confesso que nunca consegui passar da terceira ou quarta bolacha de morango. Sempre rejeito a quinta, e logo vou ao banheiro desabafar as mágoas com o vaso. Eca.

A bolacha de morango, meu camarada, é um claro exemplo do golpe da burguesia-publicitária-consumista, no qual somos influenciados a comprar produtos que não gostamos verdadeiramente: refrigerantes, sapatos de salto, livros de vampiros adolescentes e CDs da Britney Spears são alguns outros exemplos dessa influência macabra dos publicitários em nosso cotidiano.

Nós, pobres brasileiros, aceitamos assim, de bom grado, toda essa campanha a favor do famigerado morango, rejeitando toda a tradição camponesa do chocolate, que trabalhou duro, incansavelmente, e, numa terrível batalha de classes com a baunilha, conquistou o seu espaço. A bolacha de morango se aproveitou da fraqueza da sociedade, entrou em nossos lares e seduziu as criancinhas indefesas.

Tudo bem, tudo bem, eu sei que num país livre e democrático as pessoas têm o direito de escolher o sabor das coisas que comem, assim como podem votar para vereador, mas aqui em casa, não! Eu não tenho direito algum sobre o sabor da bolacha. Minha mãe é um ditador da burguesia-publicitária-consumista. É ela quem escolhe, e é sempre morango. Assim não dá, companheiro. Como dizia o camarada Cazuza, “enquanto houver burguesia, não vai haver chocolate”.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Deixe sua mensagem após o sinal

Conforme os dias, meses e anos passam por debaixo da ponte, nós, seres pensantes, constatamos, surpresos, que algumas de nossas ideias mais absurdas se encaixam perfeitamente neste sistema tão complexo chamado sociedade. Cheguei a essa conclusão num dia desses, no trem, no momento exato em que o celular de alguém fez aquele barulho inconfundível:

“Prrrrrrrrrrrrrrrrrriiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimmmmmmmm”

Não é que eu não goste de celulares, pelo contrário: acho bonitinhos, simpáticos, revolucionários talvez, principalmente se tiver uns ursinhos vermelhinhos desenhadinhos na capinha. Meu problema com eles é outro: custo e benefício!

Aí entra minha constatação mirabolante: as pessoas não usam o celular. Elas gastam uma fortuna em um telefone que filma, fotografa, joga, chupa cana, dança funk, entre outras tecnologias, mas, infelizmente, não usam a sua função primordial: a comunicação. Você liga uma, duas, quinze vezes, e a pessoa simplesmente não o atende. Deixa dentro da bolsa, no carro, na casa do amante, ou no “silencioso”.

Minha mãe, por exemplo, não utiliza o dela. Ela trocou de aparelho há alguns meses e até hoje eu não consegui contatá-la quando eu preciso. Pra que ter celular então? Compre algo mais útil, caramba! Talvez um cortador de frutas, um aparador de unhas eletrônico, uma televisão voadora, não sei.

Não é só com a minha mãe: na grande maioria das vezes que eu ligo para alguém, não sou atendido. Talvez o problema seja comigo, talvez eu seja um chato de galochas, um idiota, um perseguidor de criancinhas indefesas. Ou, quem sabe, a minha orelha envie um sinal a todos os celulares do mundo, impedindo que o botãozinho verde seja apertado por seus donos.

“Prrrrrrrrrrrrrrrrrriiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimmmmmmmm”

O celular continuou tocando lá no trem. Não atenderam. O toque prosseguiu por longos e intermináveis dez minutos. Dez minutos! . O senhor ao meu lado me olhou com uma expressão acusadora: “É seu, não é?”, ele deve ter pensado. Mas não era. Talvez o dono tivesse sumido, desaparecido no ar, viajado para um mundo perfeito, um mundo sem bolachas de morango, Zorra Total e celulares com usinhos vermelhinhos desenhadinhos na capinha.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Dividido em duas

Ele não é bonito como esses atores do cinema americano nem tão másculo quanto o Alexandre Frota, mas em seus quase 20 anos de vida pode ser considerado uns dos homens mais desejados da cidade de São Paulo. Seu estilo é variado: roqueiro quando convém, playboy dependendo da garota, ou sensível se a ocasião necessitar. *

Mesmo fazendo parte dos sonhos de uma dezena de garotas que o conhecem, o rapaz decidiu tomar jeito: dispensou todas as suas pretendentes e pediu em namoro as duas garotas que mais gostava. Elas aceitaram. Uma não sabendo da outra, é claro.

Namorar duas pessoas ao mesmo tempo realmente não deve ser fácil. São horas e horas perdidas com planos de encontros em lugares fora do alcance de vista da “outra”. “Cara, eu nunca posso me sentar na frente de um bar, por exemplo. Imagina se minha primeira namorada passa de ônibus e me vê com a segunda...”.

Existem também os intermináveis presentes dados às duas em datas comemorativas, como o Natal e Dia dos Namorados. Só aí já são quatro para cada uma. “Dou presente também nos aniversários de namoro e em mais alguns dias especiais que prefiro não revelar”.

A fama de garanhão do rapaz não é recente: ele começou cedo, mais precisamente aos seis anos de idade. “Minha prima Raquel, com sete anos na época, me encostou na parede e meteu aquela língua na minha boca”. A partir daquele momento, ele não descansou enquanto não conquistou o maior número de mulheres possíveis.

Até hoje, o rapaz contabiliza umas 60 garotas em sua lista de namoros breves. “Isso porque sou feio, se eu fosse bonito, passaria de 200”, diz, orgulhoso. Segundo os seus cálculos, são mais ou menos 13 loiras, 17 morenas, sete ruivas, três negras e dez inclassificáveis. Sim, mas, somando, o número chega a 50. E as outras dez? “Bom, as outras eu não me lembro”.

A tática usada para conquistar as mulheres é, segundo o rapaz, um dos seus diferenciais. “Geralmente, as mulheres dão mais valor ao o que você diz e não se importam muito com a sua aparência”. Por isso, o garoto investe cada vez mais em aperfeiçoar o seu vocabulário e o seu rol de possíveis assuntos. “Sei falar sobre muitas coisas que você nem imagina, meu caro”, completa.

Mas voltando ao caso de suas duas namoradas, o rapaz ainda continua confuso: não sabe qual vai eleger como única. “Na verdade, eu gosto de uma só”, disse certa vez. “E qual delas seria?”, lhe perguntaram. “Bom, ainda não descobri”.


* Preservamos o nome para evitar problemas.