Ela, a menina, nunca amou ninguém. Nenhum garoto de sua escola nem de seu bairro nem de seu país nem de todos os lugares que Deus inventou só para que ela, a menina, dissesse: “Não há no universo um garoto que me faça amar”.
A menina já havia provado de todas as paixões da adolescência: as possíveis, as contrariadas, as infelizes, as grudentas, as paixões de muro e portão. Até aquela, a escondida, a menina já tentara. Mas nada de amar: era só degustação.
A menina então procurou ajuda: perguntou ao seu pai, mãe, tia, avó, o moço que vendia alianças na porta do seu trabalho; perguntou aos deuses, aos orixás, aos pais e mães de todos os santos que ela, a menina, rezava na igreja. “Onde posso encontrar o garoto que me faça amar?”
Até pouco tempo atrás ela ainda continuava procurando. Já vasculhou todos os lugares do mundo: os corredores de sua escola, tubos de ventilação, elevadores, terrenos baldios, salas de bate-papos e páginas do orkut, debaixo de mesas, sofás e cortinas; procurou em músicas, filmes, novelas, papeis de parede e corações de chocolate.
“Onde está ele, meu Deus?”, pergunta ela. Então Deus respondeu: “Você vai encontrá-lo, é só parar de procurar”
A menina parou de vasculhar todos os lugares possíveis e imagináveis. Seu amor vai aparecer sem mais nem menos, em qualquer lugar, em qualquer momento: na praça, na rua, no ponto de ônibus, em dias de sol ou chuva, em terremotos ou filas de banco, numa foto ou poema de jornal.