(Toca o telefone)
– Alô.
– Alô, Leandro. É a sua mãe.
– Oi, mãe.
– Adivinha quem morreu?
– Deus?
– Não, idiota. Foi o Michael Jackson.
– Olha, quase acertei então.
– Ele não é Deus, ele é apenas o Rei.
– Um dos reis, né? O Roberto Carlos e o Pelé ainda estão aí para nos atormentar. Sem contar as rainhas: Madonna, Xuxa...
(Alguns minutos depois, no trabalho)
– Gente, o Michael Jackson morreu!
– Mentira.
– Como mentira? O coração dele parou, morreu, deu no rádio, na televisão, na internet.
– E você acredita nessas coisas? É tudo encenação, você acha que essas pessoas morrem? Daqui a pouco alguém vai gritar: “Michael Jackson não morreu!”, igual o Elvis. Depois isso vira frase de camiseta, tema de documentários, religião...
– E você acredita nessas coisas? É tudo encenação, você acha que essas pessoas morrem? Daqui a pouco alguém vai gritar: “Michael Jackson não morreu!”, igual o Elvis. Depois isso vira frase de camiseta, tema de documentários, religião...
(Depois de ler uma entrevista na Folha Online)
– Você viu o que Claudia Leitte disse a respeito da morte dele?
– A Claudia Leitte existe de verdade? Pensei que ela fosse algum personagem criado no Photoshop.
– Pois é, existe e tem opinião. Aliás, sobre a morte todos têm opinião. A morte faz parte da vida. Para tudo dá-se um jeito, menos para a morte etc.
– É tudo uma grande merda. Um puro espetáculo, não é? Não deixam nem o cara morrer em paz...o que a Claudia Leitte tem a ver com isso? O que nós, brasileiros, temos a ver com isso?
***
Não sei se já aconteceu com você. Hoje, no ônibus, eu tive uma estranha sensação: como se eu encontrasse significados ocultos em todas as coisas e ações que eu via: as pessoas preferindo o banco vazio a sentar ao lado de alguém, a solidão dos paulistanos em dias de chuva e frio, o salão de cabeleireiro chamado “Novo Estylo”, o Leitte da Claudia Leitte...Tudo fazia parte de uma grande engrenagem com símbolos a serem descobertos. Tudo dizia algo, tudo comunicava, tudo era política.