quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Conversando com um caro amigo

– E aí, meu caro, é agora ou nunca.
– Então será nunca. E a coragem?
– Ah, sei como é. Também tenho vergonha.
– Mas e a outra?
– Está longe.
– Você quer isso mesmo?
– Não, mas ela não me deixa outra escolha.
– Claro que não. Meu, como você consegue fazer isso?
– Eu não sei.
– Depois você vai sair daqui, pensar, e vai dizer o mesmo de sempre: ‘eu sou um merda’.
– Pois é. Mas não posso me livrar dela, você sabe. Eu a amo mais que tudo.
– Ama nada... eu me livrei da minha. Você pode fazer o mesmo.
– Como?
– Não sei explicar.
– Somos iguais, não é? Sobre tudo isso que fazem com a gente...somos iguais.


Olhamos para o lado, disfarçando a angústia. E vamos lá novamente, meu amigo: drogados do mundo, embriagados de culpa, bêbados de nós mesmos.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Notas de um zoológico

Cão sobrevivente fica dentro de pára-choque após colisão a 110 km/h; Filhote de tigre recebe transfusão de sangue após agressão na Índia; Cão é levado ao veterinário após ter boca colada na Inglaterra; Peixes usam consenso para escolher líderes, diz pesquisa; Pit bull dá marcha a ré em carro e pega estrada nos EUA; Bototerapia usa poder curativo do boto-cor-de-rosa; Sósia de gato de ‘Cemitério Maldito’ volta para casa após 13 anos; Com cérebro de semente de gergelim, abelha conta só até quatro; Viúvo e bom partido, único gorila da Índia busca namorada; Com socos e chutes, mulher enfrenta veado para salvar poodle; Aranha que poupa marido e come paquera tem mais filhos; Cães feridos em combate ganham hospital de US$ 15 mi nos EUA; Égua curiosa é resgatada de árvore; De origem russa, gato ganha título de melhor dos EUA; Peixes siameses dividem tarefas em aquário na Tailândia; Urso entra em lanchonete, olha ingredientes e desiste de comer no Canadá...


...e o burro do Leandro leu tudo isso.

domingo, 16 de novembro de 2008

Eu escolho o filme?

Eu me senti o maior dos homens no dia em que fui ao cinema pela primeira vez na vida, mais ou menos em 1994, quando ainda havia esperança.

– Qual filme você quer ver? – perguntou-me o rapaz da bilheteria.
– Power Rangers! – eu disse, todo entusiasmado.
– Tudo bem.

O rapaz me entregou o ingresso e nós, mamãe e eu, entramos naquela sala escura, onde os monstros mais terríveis do universo se escondiam para cochilar nos momentos de folga.

Sentamos na confortável poltrona, mamãe buscou a pipoca e a Sukita (ainda existe?). Esperamos uns minutinhos e a exibição começou. Para a minha total surpresa, era Power Rangers mesmo, o filme que eu pedi.

– Como assim? A gente escolhe o filme que vai ver no cinema? – eu perguntei para mamãe, em silêncio, afinal, não queria atrapalhar as outras três pessoas que estavam na sala.

O mundo ganhou outro sentido para mim depois daquele dia: eu posso escolher o filme no cinema! Isso é demais. Até aquele momento, eu tinha certeza que éramos obrigados a assistir ao filme que o moço queria. Ele é o dono, ele decide. Quem somos nós para ditar alguma coisa?

– Vocês vão ver Nosferatu! – eu imaginava o moço dizendo, cheio de sangue nos dentes. E nós ali, quietinhos no canto, aceitávamos de bom grado.
– Sim, senhor.

Hoje eu sei que não é bem assim. Estamos num país democrático, temos sim o direito de escolha sobre vários assuntos de nossas vidas: o filme, a namorada, o papel de parede do computador, a cor e o tipo da cueca, a marca do tênis, a hora que vamos ao banheiro, entre outras coisas menos importantes.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Sem título

Um dia eu pretendo escrever tudo o que vier na minha cabeça sem me preocupar com vírgulas acentos e pontos de exclamação nem com bobagens de amor e de garotas que passam por mim porque eu não gosto delas realmente apesar de amar escrever sobre elas e imaginar o dia em que vão ler e eu odeio escrever releases chatos de artistas chatos que vem lá do Rio de Janeiro para fazer show aqui em São Paulo só para me aborrecer e odeio escrever coisas chatas e notícias chatas pois eu quero mesmo é ser cronista e poder falar de qualquer coisa que eu quiser e do jeito que eu quiser sem me preocupar com lead e pirâmide invertida e diagramação e todas essas porcarias de regras do jornalismo ah e se eu pudesse também acabaria com essa besteira de economia pelo resto da minha vida e não faria contas chatas para provas chatas que não levam ninguém a lugar nenhum e não me preocuparia com o texto de cibercultura que tanto me deixou chato hoje porque eu não entendi nada pois as palavras são difíceis e as metáforas também e amanhã tem prova.