quarta-feira, 5 de maio de 2010

My first day at school

Como sempre, as redações do meu curso de inglês me fazem lembrar um passado tão remoto quanto os vestidos da Hebe. Hoje, ao pegar a folha de redação, me deparei com o meu primeiro dia na escola. 

O que escrever? Os anos, rápidos e imperdoáveis, apagaram o poder de comprovação das minhas lembranças. Será mesmo verdade o meu choro naquele primeiro dia? É verdadeiro o meu pânico ao sentir que entraria num outro mundo se ultrapassasse aquele portão azul?

Sei que eu era menor que um anão. Não, as coisas que eram gigantescas, enormes, desproporcionais aos meus sonhos e dedos pequeninos. Minha maior preocupação, na época, era guiar o Mário Bros por mundos escondidos nas estrelas.

Cheguei à escola e encarei o portão azul com o medo se derramando pelos olhos. Onde estaria a minha mãe para enxugar o meu desespero? Em seu lugar apareceu uma moça gorda, que disse ser minha professora. Ela se chamada Mirian, mas seu nome deveria ser Gentileza. A Mirian me mostrou como o mundo era pequeno, pois, afinal, ele cabia inteirinho dentro de um mapa.

Minha primeira professora também me ensinou o tamanho das palavras. Com elas, eu poderia transformar uma minhoca numa guerra nuclear, uma frase em uma revolução, um sentimento numa letra de música. As pequenas palavras são as mais importantes, pois carregam dentro delas coisas gigantes: “céu”, “amor”, “dor”, “deus”. 

O meu primeiro dia na escola foi o do meu primeiro amor. Me apaixonei pela Amanda assim que a vi. Era magrinha, com cabelos longos e despenteados. Em um ano, acho que nos falamos por umas três vezes. O amor é indescritível mesmo na infância e, por mais que eu cresça, ainda não aprendi sua gramática.

Fiz várias amizades no primeiro dia. Tirando o Luciano, acho que nenhuma sobreviveu às brigas do futebol. Brigávamos como adultos, pois o Júnior não era um bom goleiro, o Michel perdia todos os gols e eu, infelizmente, era um péssimo árbitro. Contrariando as expectativas, nenhum de nós disputou uma Copa do Mundo.

Quando o sinal bateu marcando o final do dia, provavelmente percebi que era um início de uma vida. O segundo dia dura até hoje.

sábado, 1 de maio de 2010

Dor/rio

Minha senha é dor, sonhador

Que dor? Que nada, nadador

Um dia a dor me mata, matador.