domingo, 28 de setembro de 2008

Aos meus amores partidos

Eu seria o mais tranqüilo dos homens se você olhasse para mim: dormiria com o som de bossas e, no raiar do sol, mais ou menos na hora que meus sonhos chegam perto dos seus, eu acordaria dando bom dia ao rádio relógio, que tanto me deprime em manhãs normais. Se me quisesses, eu lembraria de ti em todos os momentos do dia: no caminho, na escola, em tardes ensolaradas e tristes; veria seu rosto em todos os espelhos do mundo, em todos os vidros de carro, nos pensamentos partidos, nas janelas quebradas, em ventos perdidos. Para falar com você eu seria Chico, Vinicius, Drummond e o maior dos poetas menores que eu encontrasse em bares sem coração. Ah, garota, se fosses louca por mim, chorinhos e poemas nas páginas eu faria, cheios de fiéis amores e palavras criadas. E se um dia brigássemos, eu daria uma volta no mundo em oitenta segundos, só para encontrar a melhor das desculpas por te odiar naquele instante banal. Ah, menina, goste de mim, olhe pra mim, me deixe feliz, me faça normal, que eu canto uma música, recito um poema, faço um desenho, resolvo os problemas e reinvento as estrelas. Se você olhasse para mim, meu amor, eu rimaria palavras cruzadas, objetos diretos e periódicas tabelas; faria dos metais não-metais. Quem sabe um dia, garota, você perceba a minha presença e, diante de ti, eu perca o medo e me transforme em mim mesmo.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O meu problema com apelidos

Eu tive certeza que o mundo está perdido quando a loira na minha frente pronunciou a seguinte frase catastrófica ao celular: “Você já conversou com a Jessiquinha?”

Sim, nós, pessoas medianas, equilibradas e com um senso de inteligência para apelidos, sabemos que nenhum ser humano que se preze pode ser chamado de “Jessiquinha”. Fico imaginando como será vida dela. Talvez seja operadora de telemarketing de produtos da Telefônica.

– Jessiquinha, boa tarde – ela me diz.
– Me desculpe, não falo com pessoas com este apelido – eu retruco.

Ou talvez a Jessiquinha venda filtros de água Europa em supermercados. Ela deve passar a tarde fazendo palavras cruzadas em virtude da falta de clientes. De repente, eu chego e vejo escrito em seu crachá: “Jessiquinha – Vendedora”.

– Ah, prefiro beber água suja.

O mais provável é que ela seja jornalista, sei lá. Trabalha no jornal Agora como repórter de curiosidades. Faz reportagens sobre anões e jacarés na periferia. A matéria vem assinada: “Jessiquinha Fernandes”.

Não tenho problemas com Jéssica, mas o apelido derivado não combina. A letra ‘Q’ me faz lembrar biscoitos infantis: “Saboreie a nova Jeffiquinho de morango”. Sinceramente, não dá.

Saudade do tempo em que os apelidos eram normais: Rosa, Pança, Jesus, Priguicinha, Cidão, Broca, Feliz, Estranho, Bunda, entre outros.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Curtindo uma viagem com a música eletrônica

Eu tenho um sério problema com pessoas que ouvem música no celular dentro de ônibus/trem/metrô/qualquer lugar. Tudo bem escutar em seus fones brancos, solitários, dentro de um mundo paralelo; mas colocar a música no último dos volumes para todos escutarem, não!

Talvez eu seja um conservador, mas não consigo ouvir música eletrônica às seis da madrugada dentro de um metrô lotado. Simplesmente está fora da minha capacidade física. Meus ouvidos não suportam e meu cérebro se transforma em pasta de amendoim.

É sempre assim: sento no meu lugar, pego um livro, inicio a leitura e... ela começa. Algum ser sem rosto ligou o celular e a maldita música eletrônica, estourando os tímpanos dos presentes. Pelo amor de Deus, alguém desliga essa coisa. Eu preciso ler, o senhor do meu lado quer dormir um pouquinho e tem um casal ali que necessita namorar.

Todos no metrô já perceberam o barulho e, no fundo de suas almas, desejam todo o mal à vida do sujeito do celular. Quem ele pensa que é? Acordamos cedo, trabalhamos muito e somos obrigados a ouvir esses barulhos sem sentido? Que porcaria de vida. Vai ouvir música eletrônica na casa do seu pai – é o pensamento geral da nação.

O casal de namorados me lança um olhar corajoso, algo como “precisamos reagir”. Já o senhor dorminhoco parece triste, não vê solução para o fim da música. “Não tem jeito, cara, o rapaz não vai desligar o celular” – ele me diz, melancólico.

Eu, esperançoso, vou fazer alguma coisa. Vamos reunir um exército, sei lá. Chamar o FBI, a CIA, a Polícia Federal, a Ordem da Fênix. O cara do celular precisa ser detido, a música eletrônica tem que parar.

Eu me levanto e, no alto da minha coragem, vejo o cara do celular. Detalhes sobre ele: é grande e forte, usa camisa larga e um boné de aba reta, tem bigodinho e deve trabalhar na tropa de elite. Mais calmo, eu decido ouvir a música eletrônica e curtir a viagem.

domingo, 14 de setembro de 2008

Qual é o segredo da ruivinha?

Para a Tatiane, que não me deixa escrever sobre mulheres

Não é que eu pensasse que elas não existem mais. Pelo contrário: eu sempre soube que ainda caminham por aí! Se andam por contos de fadas ou escondidas da luz enferrujada do sol, eu não sei, mas não sumiram do mundo, as ruivas.
Sim, elas sabem nos deixar rubros com seus cabelos de fogo e sardas no rosto. Tão assim, tão ruivas, tão lindas e tão perfeitas que fazem de nós, homens, meros apaixonados sem começo e sem fim; tão assim, tão normal.