segunda-feira, 15 de março de 2010

13 de março, sábado, na rua Augusta sob o sol forte

Escrevo hoje, na segunda-feira, mas os fatos se deram no sábado, 13 de março.


Desci na estação Anhangabaú, às 16 horas. A Karol, minha amiga publicitária, não estava lá,  diferentemente do que havíamos combinado ao telefone. Sua pressão caiu e ela se atrasou por uns 30 minutos. O calor estava perto dos 35 graus. A temperatura sobe e a pressão sempre desce, deve haver uma proporção macabra nisso.

A Karol mora perto da Augusta, na rua da Abolição (achei o nome sugestivo). Pedi a ela que me acompanhasse nesse primeiro dia, pois, vivendo ali, conhece a região melhor que eu.

Andamos, pois, dentro do forte calor. O ar estava quente e o vento era pouco. Paramos em uma padaria já no início da Augusta. Compramos uma água por R$ 2,20, o que nos deixou indignados. “Uma garrafa tão pequena por esse preço?”, perguntei, sedento.

Mais acima, alguns adolescentes esperavam a abertura de uma balada que eu não conhecia. “Deve ser matinê”, comentei com a Karol. Os jovens vestiam roupas pretas e justas – não se importavam muito com o calor.

Enquanto subíamos a rua, tentei explicar o meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) à Karol: “É um livro-reportagem sobre a Augusta, mas o foco principal será um salão de cabeleireiros. Quero falar da rua a partir do salão, entende? Como um ponto de encontro”. Silêncio. “Bom, não entendo, mas tudo bem...vamos procurar”.

Passamos por três salões. Nenhum se encaixou no “perfil”, seja lá qual era o perfil. A Karol se lembrou de um salão. “Sempre tive curiosidade de entrar lá”, confessou. Procuramos, então. Sem sucesso. Subimos, descemos, subimos novamente, voltamos, e nada. Quase desistindo, resolvi atravessar a rua para ter outra visão. Deu certo, em dois minutos achamos o dito: já havíamos passado por ele algumas vezes.

Giva! É como se chama o salão. Giva. Se fosse Diva, eu já teria o nome do livro. Fiquei com receio, a princípio. A coragem me abandona antes de entrevistas, depois eu me solto. Entramos, e o medo tremeu em minhas mãos. Expliquei o trabalho ao Marconi, a primeira pessoa a me atender. Ele aceitou de primeira. Não fez pergunta alguma, o que me deixou sem jeito.

Ao lado, em frente ao espelho, uma cabeleireira passava alguma coisa branca na cabeça de um homem. Os dois eram contemplados por um poodle magrelo e barulhento. No balcão, um homem/mulher olhava o Orkut por um notebook. A Karol, sentada em um pufe, mexia no celular. Eu, nervoso, ainda tentava explicar o livro ao Marconi.

De repente entrou um mendigo. Ele parou e, aos gritos, se dirigiu ao poodle: “Você está em choque, cadela? Diz, você está em choque?”. Em seguida, o homem passou uma das mãos na peruca loira de um manequim que estava na entrada. Ele desceu os dedos e apalpou com força os seios da boneca. A cena durou alguns segundos. Depois, se virando depressa, foi embora.

Tudo continuou como se nada houvesse ocorrido...

6 comentários:

Leandro disse...

Tentarei manter atualizado durante o TCC, como um diário, saca?

Me desejem sorte!

Beijos

Web Pick up disse...

Boa ideia o ponto de partida do salão.

E legal fazer um diário, vamos acompanhar as suas aventuras nesse vasto mundo da Augusta.

Abraço!

Adhemar

Adh2BS disse...

Mestre Leandro.
Seu blog me foi recomendado por um sujeito a quem aprecio deveras e considero muito. Então, curioso que sou de novidades, me deparo com um jeito de escrever simplesmente muito gostoso de ler. Desde já tomo a liberdade de vir lê-lo, e acrescentá-lo a lista dos blogs preferidos.
Grande abraço,
Adh2bs

Unknown disse...

Taí um livro que, com certeza, irá além da Faculdade. Sucesso, menino!

Meu mundo... disse...

Rs como eu imaginava...
Ganhei um primo por acaso, que é um maravilhoso escritor...
Boa sorte Primo/o/

Nath disse...

"homem/mulher olhando o orkut" foi o mais engracado! hahahaha

Boa sorte com o projeto Lee!
Se voce imprimir mais de uma copia, deixa eu ler?? :)