sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Eu, eufórico

O copo, cheio de chope e de energia, flutua no espaço vazio e vai parar justamente em minhas mãos inseguras. Seguro o copo, feliz por saber que ainda existem pessoas dispostas a vender o sagrado elixir da discórdia. Bebo aquele líquido leve como se fosse água; talvez seja mesmo água, pois não mais sinto o gosto amargo do álcool.

Olho em volta: o ambiente transborda calor e pessoas. Muitas pessoas. Algumas falam alto, outras cantam, gesticulam; um homem barbudo briga com o segurança; uma garota bonita me parece perdida, ali sentada no canto; olha o encanto daquela morena: não a conheço de algum lugar?

O Luciano e o Adhemar debatem o último jogo do futebol americano. O Dallas superou o New York Dolls por 24 a 12, eu ouço um deles dizer. Quantos gols, penso: aqui no Brasil não temos um placar desses. “O futebol americano não tem gol”, alguém me alerta.

Caminho um pouco entre as mesas. O Sato e a Ludymila estão em uma delas. Conversam filosoficamente. Analisam a vida, imagino, pois há tanto a desvendar nesses corações amargurados...A Ludymila demonstra um ar sonhador: está apaixonada pelo Luciano, obviamente.

Aos tropeços, eu peço mais um copo ao garçom, que me retribui com a costumeira gentileza. Os garçons sofrem mais que os bêbados, pois cabe a eles alimentar o desamor humano; por suas mãos passa a energia que vai derramar uma lágrima, criar uma briga, um fora, uma tristeza.

Eu ando mais, e mais...procuro um local onde guardar a minha ansiedade. A Bruna, sentada perto da parede, gargalha ao ouvir uma piada do Vinicius. Tento lembrar algo engraçado para agradá-la também, mas os seus olhos puxados fogem de mim e vão a um ponto onde não posso alcançá-los. “Bruna, se eu não estivesse bêbado...”, digo, e escondo o sentimento.

***

O nível alcoólico está lá nas alturas, bem acima da minha cabeça, que, por sua vez, gira. Gira. Gira. Penso nas palavras. Quando estou bêbado, as palavras me vêm claras e limpas. Abutre, sobrancelha, inexorável, exeqüível, frenesi. Como são bonitas as palavras, são lindas de morrer...eu poderia escrever um poema agora mesmo, nesse instante...seria um poema sublime, um poema cheio de alegria e de amor. Se não fosse um poema, eu faria um lindo romance; um romance, é, um romance insuperável, pois ninguém, nenhuma pessoa nesse mundo feliz, nem você, leitor, nem ninguém...Ninguém pode amar mais do que eu nesse momento de euforia.

10 comentários:

Maíra disse...

Belo texto!

"Ninguém pode amar mais do que eu nesse momento de euforia."
Encerrou muitíssimo bem. Não sei nem mais o que dizer, depois dessa frase.

:*

Beto disse...

Deppis de ler, vejo um simples momento de bebedeira casual, como mais um instante de reflexão de um jovem pensador. Será que essa idéia se encaixa em qualquer bar? (rs)

kk disse...

eu não estava nesse lugar....
sou invisivel agoraaa?!?!?!
Apesar q no ponto alcoolico eu não estava mesmo HUAHAUHAUA

Bruna Yuri disse...

Dia tenso! :\

Eu pensei: Não falou da Gi!
Mas, a Gi não foi! hahaha. Louca.

Cristiano Contreiras disse...

Sensivel, criativo e com conceito inteligente! parabens pelo blog, Leandro!

Muito bom mesmo o estilo adotado aqui!

te seguirei!

Jefferson Sato disse...

Dia tenso! [2]

Acho que foi um dia cheio de descobertas para várias pessoas. Eu descobri uma porrada de coisas.

Realmente, a Karol foi excluida, tadinha! Hahaha!

Você disse que nunca mais ia beber. Como em todas as vezes que saí com você e você bebeu.
Vou cobrar.

eduardo disse...

opas leandro
que texto meu jovem!!!
tava eufórico quando concebeu-o?
kakakaka
esse sentimento de que nada é impossível e de uma lucidez sem parâmetros!
passarei a visitar aqui também, obrigado pelo comments e parabéns pela detalhada sensação tão pertinente!

Tatiane disse...

O nome do texto deveria ser "Eu, bêbado", mas enfim... você até que é um cara legal quando não está sóbrio e, obviamente, parado - porque assim não causa problemas e nem deixa ninguém preocupado.

=)

Nath disse...

hahaahh
esse final ficou tao melancolico, Le.
Me lembrou aqueles protagonistas da novela das oito, que ficam bebados depois de levarem um fora da mocinha. Dai eles se sentam na calcada e comecam a chorar. hahahhha

Adhemar Juan disse...

New York Dolls hahahahaha

Não seria Giants?

Mas com relação ao texto, sempre quis ver as reflexões de um bêbado, ainda mais que se lembra do que ocorreu.

E ótimo final por sinal!