quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Do livro e outros demônios

Sempre tive curiosidade para saber o que as pessoas estão lendo. Faço de tudo para descobrir: entorto o pescoço, olho de lado, disfarço, tento de novo, procuro outra vez, enfim, desejo furiosamente conhecer qual é o livro que o rapaz moreno na minha frente está segurando.

– Será um Gabriel García Márquez? – eu penso, esperançoso. Talvez. Ele tem jeito que curte o Gabo, sei lá: está vestindo uma camisa vermelha, e isso é um forte indício. Cem anos de solidão ou Crônica de uma morte anunciada?

E se for um livro novo, um lançamento? E agora, cara? Eu preciso saber qual é! O rapaz moreno conhece um livro do García Márquez que nem em sonho eu supunha existir. O que é isso? Lançam coisas novas e nem avisam a parte pobre da população?!

Espera aí, talvez não seja novo. Talvez seja um daqueles raros, sabe? Que você não encontra nem nos sebos da Rua Augusta. É, realmente... se for assim tudo bem, não ligo; o cara conseguiu uma proeza: encontrou uma raridade e agora está exibindo a nós, meros mortais que andam de metrô. Parabéns!

Eu quero pelo menos saber o nome do livro para comprá-lo com as moedinhas do meu cofre, mas o cara moreno não me mostra. Ele que é feliz: lê obras raras do Gabriel García Márquez, deve ter uma namorada bonita, um belo emprego, almoça em restaurantes legais, toma banho quentinho, enfim, uma vida normal. Enquanto eu, sujeito menor, tento de todas as formas descobrir o título do tal livro. Vida injusta.

A minha estação está chegando. O metrô vai parar e, infelizmente, não descobrirei qual é o título da obra rara. Tudo bem, meu amigo, a vida é assim. Talvez nem seja Gabriel García Márquez mesmo. O cara moreno deve ter preocupações maiores. Talvez ele esteja lendo algo da advocacia, da medicina, da cura do câncer, coisa importante, saca?

Agora vou dormir tranqüilo: não lançaram nenhuma obra nova do Gabo, nem encontraram uma raridade. Ah, que felicidade. Posso até continuar meus textos idiotas.

4 comentários:

Leandro disse...

A volta dos textos idiotas! Nada de reflexões sobre o mundo nem cartas de amor! Viva a besteira!

ahsahshas

Tchau, pimpolhos.

Nath disse...

uhauahaa
mas como você sabe que não era mesmo uma raridade?

Jefferson Sato disse...

Vai ver era uma edição que não saiu ainda e ele está lendo em primeira mão, ainda não traduzido! Uhhhhhh, que MEDO!

Alias, fiquei imaginando vc tentando descobrir que livro era. Na minha cabeça, vc ficou parecendo um obsessivo compulsivo

Tatiane disse...

Estava indo para a faculdade hoje, por volta das 18:00 da tarde, quando, vejo um rapaz moreno, com um livro, sentado a minha frente. Tentei, relutei, persisti para saber que livro era, mas a única coisa que consegui ver foi que o título do livro começava com "Como..." e tinha capa amarela.

(talvez fosse um livro de auto-ajuda... tá na moda.)

Odeio pessoas desconhecidas que lêem perto de mim. Odeio. Me fazem parecer uma idiota, me contorcendo ao lado delas por pura curiosidade.

Enfim, concordo com o Sato. Devia ser uma obra do García Márquez não traduzida. Só para o seu desespero.
MUAHAHAHAHAHAHHA!

Beijo, pimpolho.