terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Garotas cruéis

As três garotas entraram, olharam ao redor e decidiram se sentar ali mesmo, no chão, desprezando todos os bancos vazios daquele metrô. Não lembraram elas que a oportunidade de viajar no conforto de um banco não é para qualquer um. O fato deve ser comemorado com peito estufado e uma boa leitura nas mãos.

Mas não, a três garotas preferiram o frio e a dureza do chão preto. Lá embaixo, longe da visão dos outros, elas conversaram, riram-se, trocaram confidências amorosas, soluçaram paixões adolescentes e desprezaram a tediosa tarde das pessoas que, diferentemente delas, procuravam felicidade nesse mundo de Deus.

Enquanto elas falavam, alheias a tudo, reparei em cada uma, imaginei o por que de estarem ali. Talvez voltassem da escola, sei lá, talvez estivessem viajando a algum lugar, ou a lugar algum. Possivelmente, elas acordaram cedo e resolveram exibir seus perfis alegres por aí, causando inveja nos idiotas que ainda se preocupam com as responsabilidades e infelicidades do trabalho (e da vida). Não há nada mais deprimente que ver nos outros a felicidade que não se enxerga em si próprio.

Uma das garotas era uma loira de cabelo curto. Aquele curto que migra entre o masculino e o feminismo. Lindo, intrigante e instigante. O mistério das loiras mora em seus cabelos, naturais ou não. Ela vestia uma calça preta, uma sandália roxa e uma camiseta branca onde se lia: “Drink like a man”.

A outra garota sentada no chão era mestiça. Em seus olhos puxados, uma mistura de culturas. No oriente de seu corpo, viajei feliz ao Japão, voei em seus campos de trigo, imaginei conversas com gueixas e samurais centenários. Do outro lado do mundo, aquela linda garota usava All Star e camisa de banda de rock.

Por fim, a terceira integrante do grupo era morena de olhos azuis. O mistério das morenas está na conquista: quanto tempo demora a nos apaixonarmos por elas? A morena sorria, feliz por estar ali, sem saber que também estava aqui, em mim. Olhava para as amigas e se achava nelas. Magrinha, mas esbanjando presença, ela era a mais bonita das três.

Durante um longo período eu as observei, absorto. Somos enormes nos sonhos e tão pequenos em pesadelos...complicado mesmo é acordar e nos descobrirmos do tamanho real. A realidade dói, a infelicidade destrói...Garotas cruéis essas três no chão do metrô. Felizes e cruéis.

3 comentários:

Leandro disse...

Antes que alguém pergunte, não estou triste, deprimido ou algo pior. É só um texto e ele não reflete o meu estado de espírito, que, por sinal, é um dos melhores dos últimos tempos.

Já disse que não sou o que escrevo. É verdade.

Adeus.

Jefferson Sato disse...

Toda garota é cruel. No chão do metrô, andando na rua, comendo um chocolate ou voando pelos céus. Elas são todas crueis. O pior é que às vezes elas nem sabem disso.

Maldição.

Nath disse...

eu nao sou cruel, Sato. MUAHAHAHA(6)

realmente, um bom texto, Le.

mas a felicidade dos outros eh cruel? sometimes.

Criei um blog de novo,
praesquerda.blogspot.com
nao eh como o cheftier, mas to gostando um tiquinho dele. :)
beeijos