quarta-feira, 21 de maio de 2008

O meu novo amigo Omar

O Omar tem quatro anos. Não é três nem cinco: é quatro! – ele gosta de exaltar. O Omar é espanhol, nascido em Madrid; mudou-se para São Paulo há três meses por conta de um novo trabalho de seu pai, que é médico.

Eis o fato: estava eu sentado em um banquinho no horário do lanche, no trabalho. O Omar brincava com algumas pedras que havia no lugar. Sabe-se lá por que algo na minha pessoa lhe chamou a atenção. Começamos a conversar.

– Você tá gostando do Brasil, Omar?
– Não vi muita coisa ainda. Mas não gostei.
– Por que não?
– Os prédios daqui são muito pequenos.
– E os de lá são maiores, né?
– Muito, muito maiores. Bem assim, ó?

E demonstra com suas pequeninas mãos os gigantescos prédios espanhóis.

Você trabalha aqui? – pergunta ele.
– Sim, lááá no último andar, consegue ver?

Ele se entorta todo para enxergar o último dos dez andares do prédio onde eu trabalho.

– E como você chega lá?
– Pelos elevadores.
– Ah, sim. Sei o que são. Quero ir lá onde você trabalha.
– Eu te levo qualquer dia, ok?

Eu tava bebendo um mate com limão neste momento. Não é a melhor bebida para uma criança de quatro anos, mas ele também provou. Não curtiu muito.

– E você gosta de futebol, Omar?
– Não. Gosto de bicicleta. Mas não tá aqui. Ficou na Espanha.
– Você tem que torcer pra algum time. Aqui é o país do futebol.
– Sim, sim. Mas prefiro bicicleta.

O papo seguiu durante uns dez minutos: aqueles minutos que você lembrará para sempre, saca? Poderia parecer que eu e o Omar éramos amigos há muito tempo. Não muito tempo, afinal, ele só tem quatro aninhos. Nem três nem cinco: quatro aninhos! Nos demos bem.

Você deve estar pensando: “se ele é espanhol, por que, diabos, fala português? Ele não fala português, eu apenas traduzi aqui no texto.


– Você já foi pra escola aqui no Brasil, Omar?
– Ah, sim. Fui. Não gostei.
– Ué, não fez amigos?
­– Deixa eu ver...fiz cinco amigos!
– Olha só, que legal.

O horário do meu lance acabou: eu precisava me despedir do Omar.

– Omar, eu preciso ir, senão minha chefe vai brigar.
– Viiiiixi. Tá bom. Somos amigos então?
– Claro, Omar.
– Você é legal, entende o que eu falo!

Provavelmente nunca mais verei o Omar. Ou talvez até veja, mas quando ele já for grande, não terá mais o sotaque espanhol; quem sabe nem se lembre como se fala prédio na sua língua natal. Ou talvez nem se lembre destes dez minutinhos que passou com um desconhecido.

Para você pode parecer idiotice tudo isso que eu contei; mas, juro, conversar com esse espanholzinho de quatro anos foi o melhor momento do meu dia.

7 comentários:

Leandro disse...

Se você se perguntar: "e onde estava a mãe do Omar nesse momento?", já vai aí a resposta:

Ela tava a uns 5 metros de onde eu ele estávamos. Observando tudo, com sorriso no rosto.



Obrigado.

Anônimo disse...

aah, que texto mais cuticuti :3
hashasashs. Criancinhas são sinceras e agem sem medo do que os outros vão pensar. As vezes é bom termos pessoas assim por perto.

e vc fala espanhol então, é?
hahaha. não sabia desse seu, hm... dom.
te amo, amor meu :D
Beigos

Tatiane disse...

Ah, que texto bonitinho! *-*

Crianças, crianças!
Tão inocentes, donas de uma curiosidade infinda e sem malícia alguma. Elas tem sempre tempo pra conversas assim, tanto o tempo delas quanto o dos outros.

Ah, crianças... ^^
hehehe

E você me fez lembrar da minha amiga de Madrid. :S
haha

Beijo.

Gisele Simões disse...

huahua.......
fico te imaginando conversando com o omar!!
ele deve ter gostado do cabeli, Lê, vai por mim..............
se o pessoal da facul adora as suas madeixas, imagina um meno de quatro anos:???
rsrsrs
adorei!!como sempre...
bjo!

Nath disse...

Seu texto falou de crianças de um jeito tão puro... :D
tentei fazer isso naquele que você gostou xDD

Mas parece que o Omar não gosta de nada ! ahuahaaaha
gostei do texto, sério ! :)

beijo !

Jefferson Sato disse...

Lindo, todo mundo está falando de crianças, momentos breves e inesquecíveis, gente inocente, gente de verdade.

São todas mensagens positivas muito boas ^^

PS: Tá faltando um comentário inútil aqui, né Leandro?

Anônimo disse...

Oii,,,,,,,Leandro

Gostei muito dos dois textos.
Hmm...o do espanholzinho é uma graça e muito sensivel.
Crianças são presente de Deus. São sinceras , leais e amigas.
O legal é que você o entrevistou e captou toda a essência da situação.

E a crônica achei linda.
e é verdade enquanto agente menos espera o amor bate a nossa porta novamente e nos dá change para construir uam nova história.

Beijos beijos

Parabéns pelos textos

**Obs: Continue escrevendo ...