quinta-feira, 8 de abril de 2010

Jornada Fotográfica

Com uma câmera pendurada no pescoço, André Doeuk caminha por uma 25 de Março lotada de ambulantes, crianças e pessoas perdidas. “O que é um fotógrafo?”, pergunta e, olhando para a multidão, responde: “Alguém que tira uma foto, ora”. Ao longo do maior comércio de rua de São Paulo, 31 pessoas acompanham Doeuk na Jornada Fotográfica – projeto que reúne mensalmente dezenas de amantes da fotografia. 

Uma iniciativa de André Douek, a Jornada Fotográfica é gratuita e acontece sempre em algum ponto famoso da capital paulista. Em 13 anos, o projeto já percorreu a rua Augusta, o mercadão da Lapa, a Avenida Paulista, entre outros lugares. Os participantes, sempre munidos de câmeras, se encontram e partem para o local previamente escolhido. 

Dona Elza Martins, 72 anos, é uma das mais animadas do grupo. “Antigamente, eu tirava fotos da família. Desde que conheci a Jornada, adoro fotografar a cidade”, exalta, sorrindo. Com uma câmera digital pequena, registra seu amor por São Paulo. “Sou paulistana e me apaixono a cada dia mais por isso aqui”, diz enquanto se senta para ler um jornal.

“Dona Elza, que foto é essa aí no jornal?”, pergunta Alessandra Oliveira, 20 anos. “Acho que é sobre o metrô”, responde Dona Elza, calmamente. Alessandra, acelerada, puxa uma pequena Kodak e se debruça para fotografar o chão. “Quero ser fotógrafa”, diz, clicando.

Pela primeira vez na Jornada, Alessandra sonha com uma câmera melhor. Quando chegou e viu os outros com um equipamento enorme, ficou com vergonha de abrir a bolsa. “O pessoal é tão legal que ninguém reparou na minha câmera pobrinha”, diz ela. 

Das 31 pessoas que participam da Jornada na rua 25 de Março, apenas quatro não possuem uma câmera profissional. “Isso não quer dizer nada”, contesta André Doeuk. “A câmera aumenta a possibilidade, mas a foto está na pessoa”. Alessandra não acredita no mestre: ainda quer uma máquina melhor. “Sua câmera é pesada, né, André?”, pergunta. 

Às 11 horas da manhã, o sol queima em um céu de brigadeiro. “Gosto de fotografar paisagens,a luz, o céu...”, revela Alessandra. “Prefiro pessoas”, diz Doeuk, que aponta sua objetiva para duas estátuas humanas. “Você vai ver, Alessandra, se começar a frequentar a Jornada, dentro de um ano você vai evoluir muito”, aconselha o experiente fotógrafo: são 40 anos de profissão.

Também são vários os anos de profissão de Nalva Maria, 61. Ela fotografa profissionalmente desde 1983. “Sou cineclubista, aposentada pela Editora Abril, já fiz televisão, exposição...Tira uma foto minha embaixo desse véu?”, pergunta, em frente a uma loja de fantasias. Depois, ela anda até o final da rua 25 de Março, mas tira poucas fotos. “Hoje estou preguiçosa”, diz enquanto desliga sua câmera analógica. “A fotografia mudou o meu destino”, confessa, com os olhos brilhando como flash. 

Ao meio dia, todos se reúnem na estação Sé do metrô. André Doeuk recolhe os filmes e os cartões de memória dos participantes. No mês seguinte, as melhores imagens serão expostas no Arquivo Histórico Municipal, próximo à estação Tiradentes. “Qual é o objetivo? Bom, é registrar o patrimônio da cidade”, diz Doeuk. 

Um dos participantes empresta uma câmera a Doeuk para que ele registre uma imagem. “E agora, o que eu faço, é só apertar o botão?”, pergunta o fotógrafo.

2 comentários:

Leandro disse...

Essa é uma reportagem qur fiz para o Expressão, jornal da faculdade.

Abraços.

Unknown disse...

Sallve Leandro!

Uma das melhores reportagens que eu já li sobre a Jornada Fotográfica da qual eu também participo.

Parabéns!

ev@mosnós!
Marcelo Fioravanti - http://www.flickr.com