domingo, 14 de junho de 2009

No mundo ideal não existiriam títulos

Num mundo ideal, as coisas funcionariam. Os computadores, quando nervosos, não deixariam os seus donos na mão; os telefones nunca, absolutamente nunca, ficariam mudos, nem por falha mecânica, nem por erro humano, afinal, no mundo ideal, não haveria mecânica, muito menos humanos.

No mundo ideal, as janelas dariam para paisagens bonitas, dessas de calendário, sabe, dessas que nos fazem pensar em mudar de profissão: virar fotógrafo, viajar para o Hawaí e casar com uma linda norueguesa. No mundo ideal existiriam lindas norueguesas aqui em São Paulo – e elas andariam por aí, nos ônibus, no metrô, no trem. Mas isso seria realmente difícil, porque no mundo ideal, não existiria ônibus, metrô e trem, aliás, São Paulo também não existiria no mundo ideal.

No mundo ideal não existiria dor de cabeça nem dor de estômago nem cólica feminina nem dor de dente nem náuseas nem dor de ouvido nem hérnias de disco nem dor nas costas nem cálculos renais nem dor no dedinho do pé nem dor existencial nem depressão nem dor de amor. No mundo ideal não haveria amor no mundo ideal não haveria amor no mundo ideal não haveria amor.

No mundo ideal não haveria frases sem vírgula. A vírgula seria uma pausa para pensar. Vírgula não sei o que dizer vírgula. Eu quero vírgula parar de pensar vírgula besteira porque vírgula não vírgula agüento mais vírgula.

No lugar dos shoppings haveria uma montanha de livros, lá no mundo ideal. As pessoas gostariam de ler e, acima de tudo, ninguém acharia estranho você escolher uma leitura estranha, do tipo Mate-me, por favor ou Trópico de câncer. No mundo ideal nada seria estranho.

Ah, no mundo ideal nós poderíamos escrever o que quiséssemos, cara. Desligar a tela e deixar fluir, fruir. Ninguém se importaria em se encaixar nessa porcaria de regra de ser o certinho. Para o inferno com tudo isso. No mundo ideal, sim, no mundo ideal, toda a angústia de viver sairia de nós em forma de versos: lindos e horríveis versos.

5 comentários:

Leandro disse...

Eu juro que não usei drogas para escrever isso aí.

Talvez seja as influências, sabe?
ashahshas

Até mais.

Ludygrazie disse...

hauhauhauahuahauha...

Esse seu comentário foi essencial para fechar o post.


Enfim...
Um mundo ideal não teria graça.
Eu acho...
Precisamos do que há de ruim, para valorizarmos o que existe de bom...e mesmo assim, nunca estamos atentos a isso.

Mas seria lindo ver a dor e angústia sairem de nós em forma de versos irregulares.

=)

Jefferson Sato disse...

"Um mundo ideal não teria graça." [2]

Mas veja, no mundo ideal, não haveria ninguém para apreciar o mundo ideal. Não haveria humanos. Os animais viveriam como já vivem. Nós é que tentamos colocar significado nas coisas.

Aliás, o Warde me viu lendo "Mate-me, Por Favor" e disse "Jefferson, acho que você não deveria ler esse livro!", por causa do título.

Leandro disse...

É o melhor título de livro do universo.

É que os humanos são a coisa menos humana que há no mundo. hashahshas

Gleyci Pamplona disse...

ha sim, o mundo ideal, não teriamos cólicas, =(, como fiquei deprimda depois de ler isso, estou com cólicas quero que o mundo se apague, no mundo ideal OS HOMENWS TERIAM TPM!!! sim isso seria digno!!!!!!
Adorei o texto =) =*
Viva a sociedade alternativa =/