sexta-feira, 4 de junho de 2010

Consolação

É impossível calcular quantas pessoas passam diariamente pela Avenida Paulista. Milhares, com certeza. Apenas nas catracas da estação Consolação são mais de 40 mil todos os dias, segundo o Metrô. Essas catracas funcionam como porta de entrada da mais famosa via de São Paulo, uma prévia antes do deslumbre da grandeza da Paulista.

Inaugurada no dia 25 de janeiro de 1991, hoje a estação Consolação é um ponto de encontros e desencontros. No final de semana, os jovens da cidade se reúnem sempre no mesmo local. Aguardam o amigo ou amor que está chegando pelo metrô. Depois vão para as centenas de bares e baladas da região mais movimentada de São Paulo.

Durante a semana, jovens e adultos se amontoam nas catracas e esperam por alguém que ainda vai chegar para um almoço de negócios ou mesmo para um passeio. Alguns demonstram impaciência, pois a pressa corre forte na veia dos paulistanos. Nas catracas de ferro da Consolação pesa a ansiedade do que ainda está por vir.

“Estou esperando um amigo”, revela a jovem Julia Garcia, sorrindo. Mais tarde, a garota confirma ser o garoto mais que uma amizade, é um pretendente. De braços cruzados, ela parece impaciente. Olha para todos os lados, procurando alguém que, por enquanto, só faz presença em seu pensamento. “Ele não está atrasado, é que encontros são incertos, né? E se a pessoa não vem?”, pergunta, medrosa.

Mais perto das catracas, uma loira anda de um lado para o outro. Sobe as escadas, vai até a rua, depois retorna ao saguão. O tempo passa mais devagar quando se está nervoso. Os minutos viram horas; as horas, dias. “Está vendo? As pessoas às vezes não vêm”, observa Julia. “Imagina, um atraso desses pode acabar com um casamento, com uma amizade”, brinca.

Do outro lado do saguão um grupo de amigos conversa animadamente. “Estamos indo para uma baladinha ali na Augusta”, conta Alex Rodrigues. Ele tira do bolso o celular, que vibra. “Meu, o Bruno vai demorar mais 15 minutos”, diz em seguida. Muitos palavrões e xingamentos são ditos na sequência. “Há 15 minutos ele disse que chegaria em 10”, conta Marcos Rosado, outro membro do grupo.

O melhor da festa é esperar por ela, diz o ditado. Julia ainda aguarda o seu amigo, tentando adivinhar um futuro incerto. “Ele é bonitinho”, brinca, sorrindo. Eles vão ao cinema, mas se vão assistir ao filme é outra história. “Sempre depende do homem, né?”, diz Julia, que continua olhando para os lados. 

A loira, por sua vez, parece estar mais calma, pois não checa mais o relógio. A melhor forma de esperar é esquecer o tempo. Dois minutos depois, um homem cabeludo aparece do outro lado da catraca. A loira corre em sua direção. Os dois se abraçam longamente, esquecem as horas perdidas em ansiosa espera. “São tão bonitos esses encontros, se eu tivesse um namorado...”, diz Julia. 

O grupo de amigos ainda espera o seu membro desgarrado. “O Bruno já nasceu atrasado”, diz Marcos. No bolso de Alex, o celular vibra mais uma vez. Uma mensagem de Daniel diz: “Cheguei”. Onde está ele, então? Alex liga para o amigo. “Meu, vocês não acreditam! Ele já está na balada”, diz. Todos saem correndo. “O Bruno é um filho da...”, gritam.

Julia cruza os braços: busca em si algum consolo perdido. Nem começou o filme dos dois e ela já pensa num final infeliz. “Foi um erro marcar um encontro na Consolação, né? No Paraíso teria sido melhor”, brinca. No grande relógio no teto da estação, os ponteiros marcam 7 horas da noite.

Pela escada rolante, um garoto de franja sobe: está mais pálido que polido. “É ele”, Julia sorri. Em São Paulo, o seu príncipe anda de metrô e não a cavalo. Felipe, o garoto, ultrapassa as catracas aos pulos. Os dois se abraçam timidamente e logo vão embora rumo ao cinema. 

O atraso parece pequeno no calor do encontro.

4 comentários:

Ariane Fernandes disse...

Marcar encontros em SP realmente é uma caixinha de surpresas!Milhares de coisas podem ocorrer antes mesmo que o metrô saia da estação...

Mas não vejo a incerteza como algo ruim..às vezes dá um gostinho a mais...as vezes na incerteza é que se tem certeza de algo.

Curti seu blog, visitarei mais vezes!

Parabéns, ótimos textos!

Abraços paulistanos!

Jefferson Sato disse...

Esse Alex Rodrigues é gente boa!

Maíra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Maíra disse...

"E, pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto". Teu texto (ótimo texto) me fez lembrar esse trecho. :)