Escrevo hoje, na segunda-feira, mas os fatos se deram no sábado, 13 de março.
Desci na estação Anhangabaú, às 16 horas. A Karol, minha amiga publicitária, não estava lá, diferentemente do que havíamos combinado ao telefone. Sua pressão caiu e ela se atrasou por uns 30 minutos. O calor estava perto dos 35 graus. A temperatura sobe e a pressão sempre desce, deve haver uma proporção macabra nisso.
A Karol mora perto da Augusta, na rua da Abolição (achei o nome sugestivo). Pedi a ela que me acompanhasse nesse primeiro dia, pois, vivendo ali, conhece a região melhor que eu.
Andamos, pois, dentro do forte calor. O ar estava quente e o vento era pouco. Paramos em uma padaria já no início da Augusta. Compramos uma água por R$ 2,20, o que nos deixou indignados. “Uma garrafa tão pequena por esse preço?”, perguntei, sedento.
Mais acima, alguns adolescentes esperavam a abertura de uma balada que eu não conhecia. “Deve ser matinê”, comentei com a Karol. Os jovens vestiam roupas pretas e justas – não se importavam muito com o calor.
Enquanto subíamos a rua, tentei explicar o meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) à Karol: “É um livro-reportagem sobre a Augusta, mas o foco principal será um salão de cabeleireiros. Quero falar da rua a partir do salão, entende? Como um ponto de encontro”. Silêncio. “Bom, não entendo, mas tudo bem...vamos procurar”.
Passamos por três salões. Nenhum se encaixou no “perfil”, seja lá qual era o perfil. A Karol se lembrou de um salão. “Sempre tive curiosidade de entrar lá”, confessou. Procuramos, então. Sem sucesso. Subimos, descemos, subimos novamente, voltamos, e nada. Quase desistindo, resolvi atravessar a rua para ter outra visão. Deu certo, em dois minutos achamos o dito: já havíamos passado por ele algumas vezes.
Giva! É como se chama o salão. Giva. Se fosse Diva, eu já teria o nome do livro. Fiquei com receio, a princípio. A coragem me abandona antes de entrevistas, depois eu me solto. Entramos, e o medo tremeu em minhas mãos. Expliquei o trabalho ao Marconi, a primeira pessoa a me atender. Ele aceitou de primeira. Não fez pergunta alguma, o que me deixou sem jeito.
Ao lado, em frente ao espelho, uma cabeleireira passava alguma coisa branca na cabeça de um homem. Os dois eram contemplados por um poodle magrelo e barulhento. No balcão, um homem/mulher olhava o Orkut por um notebook. A Karol, sentada em um pufe, mexia no celular. Eu, nervoso, ainda tentava explicar o livro ao Marconi.
De repente entrou um mendigo. Ele parou e, aos gritos, se dirigiu ao poodle: “Você está em choque, cadela? Diz, você está em choque?”. Em seguida, o homem passou uma das mãos na peruca loira de um manequim que estava na entrada. Ele desceu os dedos e apalpou com força os seios da boneca. A cena durou alguns segundos. Depois, se virando depressa, foi embora.
Tudo continuou como se nada houvesse ocorrido...
6 comentários:
Tentarei manter atualizado durante o TCC, como um diário, saca?
Me desejem sorte!
Beijos
Boa ideia o ponto de partida do salão.
E legal fazer um diário, vamos acompanhar as suas aventuras nesse vasto mundo da Augusta.
Abraço!
Adhemar
Mestre Leandro.
Seu blog me foi recomendado por um sujeito a quem aprecio deveras e considero muito. Então, curioso que sou de novidades, me deparo com um jeito de escrever simplesmente muito gostoso de ler. Desde já tomo a liberdade de vir lê-lo, e acrescentá-lo a lista dos blogs preferidos.
Grande abraço,
Adh2bs
Taí um livro que, com certeza, irá além da Faculdade. Sucesso, menino!
Rs como eu imaginava...
Ganhei um primo por acaso, que é um maravilhoso escritor...
Boa sorte Primo/o/
"homem/mulher olhando o orkut" foi o mais engracado! hahahaha
Boa sorte com o projeto Lee!
Se voce imprimir mais de uma copia, deixa eu ler?? :)
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